Intermação (heatstroke)

Introdução

  • Definição

    A intermação, também chamada de doença relacionada ao calor, é uma condição aguda emergencial que resulta em extrema hipertermia não-pirético com temperatura corporal acima de 41° C em cães (acima de 40º C em seres humanos) no qual excede a habilidade do organismo em realizar a termorregulação associada à incapacidade do organismo em dissipar o calor acumulado e está associada à síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), instabilidade hemodinâmica, deterioração neurológica, lesão tecidual, síndrome da disfunção múltipla dos órgãos e óbito (1-2, 4, 6, 8, 12, 19, 25, 33).

    Os pacientes que desenvolvem intermação necessitam de intervenção terapêutica imediata, agressiva e intensiva, além de monitoramento contínuo (33).

Predisposição

Relacionadas ao paciente

Cães: 

A intermação é comum nos cães (2, 25).


Gatos: 

A intermação é rara nos gatos (2, 19).

Cães:

Braquicefálicos: 

As raças braquicefálicas são frequentemente consideradas como menos capazes para lidar com o estresse térmico e mais predispostas a desenvolver intermação (14). 

As raças braquicefálicas apresentam de 2 a 3 vezes mais chances de desenvolver intermação quando comparado com as raças mesocefálicas (21-23).

Foi relatado que problemas de regulação do calor afetam cerca de um terço dos cães braquicefálicos (21). 

Os pacientes braquicefálicos apresentam maior risco de desenvolver a intermação comparado com as raças mesocefálicas, pois os braquicefálicos apresentam diminuição da habilidade de termorregulação corporal através da respiração devido às alterações anatômicas comuns da síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos como estenose de narina, prolongamento de palato mole e hipoplasia de traqueia, por exemplo, e devido à maior tendência de desenvolver paralisia de laringe (4, 10, 12). 

As raças de cães braquicefálicas que são mais predispostas a desenvolver intermação são:

- Boxer (20).


- Bulldog Francês (4).


- Bulldog Inglês (4): Há um estudo científico relatando que o Bulldog Inglês pode desenvolver hipertermia mesmo em temperatura ambiental de 21º C (4, 21).


- Pug (4).


Cães de pastoreio e/ou militares: 

Acredita-se que os cães de pastoreio e militares apresentam maior predisposição a desenvolver intermação devido à maior frequência ao treinamento intensivo e ao estresse térmico ambiental importante e não necessariamente ao peso corporal (10).

Os cães de pastoreio e/ou militares predispostos a desenvolverem intermação são:

- Pastor Australiano (21).


- Pastor Belga Malinois (10): Alguns estudos científicos sugerem que o Pastor Belga Malinois apresenta uma predisposição genética para o desenvolvimento da intermação, associada à diminuição da quantidade das proteínas do choque térmico sérica (21).


- Pastor Holandês (10).


Cavalier King Charles Spaniel (4).


Chow Chow (4).


Dogue de Bordeaux (4).


Greyhound (4).


Raças grandes: 

Há um estudo científico relatando que os cães com média de peso corporal de 31 kg apresentam maior predisposição para desenvolver intermação (10). 

Entretanto, há um estudo científico relatando que os cães com peso corporal acima de 10 kg apresentam maior predisposição a desenvolver intermação do que os cães com peso corporal inferior a 10 kg (4, 22).


Retrievers: 

Acredita-se que os Retrievers são predispostos a desenvolverem intermação devido à sua característica brincalhona e ativa (10, 12).

Os Retrievers predispostos a desenvolverem intermação são:

- Golden Retriever (4).


- Labrador Retriever (4).


Springer Spaniel Inglês (4).


Staffordshire Bull Terrier:

Há um estudo científico relatando que o Staffordshire Bull Terrier apresenta maior predisposição a desenvolver a intermação por esforço (21).

Inferior a 2 anos de idade:

Os pacientes com idade inferior a 2 anos apresentam maior chance de desenvolver intermação de esforço, possivelmente devido à intensidade e duração do exercício físico realizado pelos pacientes mais novos (4, 21).


Superior a 12 anos de idade:

Apesar dos pacientes com idade igual ou superior a 12 anos apresentar menor chance de apresentar intermação por esforço devido às afecções que limitam a capacidade do exercício físico como doenças osteoarticulares e doenças cardíacas, por exemplo, os pacientes com idade superior a 12 anos apresentam predisposição a desenvolver intermação clássica devido à diminuição da habilidade dos mecanismos de termorregulação relacionada à idade e à presença de alguma afecção que interfere na termorregulação como as cardiopatias e as afecções respiratórias, por exemplo (4, 21). 

Em seres humanos idosos, é relatado que há diminuição dos mecanismos fisiológicos termorregulatórios devido à diminuição da transpiração e diminuição da vascularização sanguínea periférica (21).

Alguns estudos científicos relatam maior predisposição dos machos para o desenvolvimento de intermação (5-6, 20).

Entretanto, outros estudos científicos relatam que não há predisposição sexual para o desenvolvimento da intermação em cães (2). 

Há um estudo científico relatando que os machos apresentam maior temperatura corporal após um exercício físico quando comparado com as fêmeas, mas a temperatura pré-exercício físico é a mesma em ambos os sexos (20).

Camada dupla de pelagem:

Há um estudo científico relatando que os pets que apresentam camada dupla de pelagem são predispostos a desenvolver intermação (22). 


Comprimento da pelagem:

Foi relatado que os animais com pelagem comprida também são predispostos a desenvolver intermação (35). 


Coloração da pelagem:

Há estudos científicos relatando que os cães com coloração de pelo mais escurecida apresentam maior temperatura corporal após o exercício físico quando comparado com cães com coloração de pelagem mais clara (20). 

Os cães, bovinos, antílopes, ovelhas com coloração escurecida da pelagem apresentam maior estresse térmico quando comparado com esses mesmos animais que apresentam coloração de pelagem mais clara, que conseguem manter temperatura corporal mais baixa do que os animais com coloração de pelagem mais escurecida (29).

Os animais que apresentam coloração de pelagem mais clara apresentam maior refletividade da luz e, consequentemente, menor acúmulo de calor corporal (29).

Os pacientes que não praticam exercício físico apresentam diminuição da resistência ao exercício físico e aumento na taxa de aumento da temperatura corporal (7, 13).

Entretanto, não é somente a falta de condicionamento que interfere na temperatura corporal pós-exercício, mas a hidratação, tamanho do corpo e alimentação também interferem na temperatura corporal após o exercício físico (13, 29).

Há um estudo científico relatando que a temperatura retal dos cães aumenta durante o exercício físico e essa elevação na temperatura retal é diretamente correlacionada à temperatura ambiente (32). 

Nos seres humanos, a produção de calor corporal resultante da contração muscular desenvolve uma carga térmica interna proporcional à intensidade do exercício físico praticado (29).

As proteínas do choque térmico ajudam a proteger o paciente contra a intermação (25). 

O envelhecimento, desidratação, doença pré-existente, a falta de aclimatização e genética são alguns fatores associados à diminuição sérica das proteínas do choque térmico podem predispor o paciente à intermação (25, 33).

Os animais de uma determinada espécie que vivem em ambientes mais quentes apresentam maior concentração de proteínas do choque térmico quando comparado com os animais da mesma espécie que vivem em ambientes normotérmicos (33). 

A mensuração da concentração das proteínas do choque térmico pode ser realizada para predizer a susceptibilidade do paciente a desenvolver intermação (7).

Relacionadas ao ambiente

A intermação ocorre principalmente no verão, que apresenta os meses mais quentes do ano, e principalmente antes que ocorra a adequada aclimatização ao estresse térmico do paciente (10-11, 25). 

Temperatura ambiente superior a 30º C faz com que os animais apresentem sintomas de estresse térmico como o aumento da frequência respiratória e ficam ofegantes (29). 

Há um estudo científico relatando que apenas 6 minutos de exercício físico em alta temperatura ambiental é o suficiente para o paciente desenvolver intermação (13). 

Há um estudo científico relatando que temperatura ambiente igual ou superior a 38º C ou em pacientes que realizam exercício físico em temperatura ambiente de 31º C predispõe o paciente a desenvolver intermação (29). 

Como 38º C está dentro do valor de referência da temperatura corporal dos cães, quando a temperatura ambiental se aproxima ou ultrapassa os 38º C a dissipação de calor fica prejudicada e há cães que podem apresentar temperatura corporal de 41,5º C nessas condições (29).

Os pacientes que vivem em locais com alta umidade ambiental apresentam maior chance de desenvolver intermação (8, 25). 

Há um estudo científico relatando que a umidade ambiental igual ou superior a 50% predispõe o paciente a desenvolve intermação mais do que a temperatura ambiente e indicou que a maioria dos cães de trabalho desenvolvem intermação quando a temperatura ambiente está superior a 26,7º C associada à umidade ambiental superior a 60% (17).

Relacionadas às afecções que predispõe à intermação

Os pacientes que estão acima do peso ou com obesidade apresentam maior chance de desenvolver intermação (4, 10). 

O aumento do escore corporal é um fator significativo para o desenvolvimento das afecções secundárias à alta temperatura ambiental, pois o aumento do escore corporal previne a adequada dissipação de calor corporal por condução e radiação, ocasiona em diminuição do resfriamento corporal através da respiração e a temperatura corporal aumenta com o peso corporal (12, 22, 29).

Há um estudo científico relatando que o escore corporal apresenta maior influência na resposta ao estresse térmico do que a raça do pet (14).

Os pacientes com colapso de traqueia apresentam fluxo de ar inadequado no trato respiratório devido à alteração anatômica da traqueia (12).

A ingestão insuficiente de líquidos pode aumentar a suscetibilidade de um paciente à intermação, pois o paciente que ingere menos líquido apresenta diminuição do volume sanguíneo, o organismo tenta manter um estado normotenso fornecendo menos sangue à pele e isso resulta em menos dissipação de calor e em um aumento mais rápido da temperatura corporal (35).

As doenças cardíacas podem afetar na termorregulação do paciente, pois as doenças cardíacas diminuem a capacidade do organismo em dissipar calor adequadamente (11, 20, 35).

Os pacientes com doenças neurológicas e neuromuscularessão predispostos a desenvolver intermação (11).

Algumas vezes as doenças de sistema nervoso central provoca alteração na termorregulação (39).

Há um estudo científico relatando que a hiperosmolalidade extracelular induzida experimentalmente ocasionou em elevação na temperatura retal de cães atletas (32).

Definição:

A hipertermia maligna é uma afecção hereditária autossômica dominante caracterizada por uma reação farmacocinética desencadeada por agentes anestésicos voláteis, com exceção ao óxido nitroso, e bloqueadores neuromusculares despolarizantes como a succinilcolina, por exemplo, devido a uma mutação no gene do receptor de rianodina tipo 1 (RYR1) (12).


Predisposição:

As raças predispostas a desenvolverem hipertermia maligna são Greyhound, Border Collie, Cocker Spaniel, Dobermann Pinscher, Pointer e São Bernardo (12).


Sintomatologia clínica:

Quando algum desses medicamentos relatados é administrado no paciente susceptível, os sintomas clínicos que o paciente pode apresentar são taquipneia, hipertermia, hipercapnia, rigidez muscular, acidose metabólica, arritmias cardíacas e óbito (12).

Devido à paralisia de laringe, os pacientes apresentam inadequado fluxo de ar no trato respiratório e há a maior predisposição a desenvolver intermação (12, 17).

Etiologia:

Acredita-se que uma disfunção da liberação de cálcio do receptor de rianodina devido à alteração na homeostase do cálcio seja a etiologia dessa síndrome nesses pacientes (10).


Sintomatologia clínica e alterações laboratoriais:

A síndrome da hipertermia maligna induzida por exercício físico em Springer Spaniel Inglês ocasiona em colapso, dispneia, hipertermia e hiperlactatemia (10). 

Os pacientes com síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos são mais predispostos a desenvolver intermação devido às alterações anatômicas que impedem o adequado fluxo de ar no trato respiratório superior (10, 12).

Durante o estresse térmico nos pacientes braquicefálicos, ocorre o aumento da frequência respiratória devido à dificuldade respiratória (dispneia), aumenta a pressão intratorácica, ocorre uma maior deformidade dos tecidos moles do trato respiratório anterior e consequentemente ocorre uma maior obstrução das vias aéreas e a um maior esforço respiratório, predispondo esses pacientes à intermação (12, 14).

Etiologia:

A mutação na dinamina 1 (DNM1), que é uma enzima catalítica envolvida na endocitose das vesículas sinápticas e na neurotransmissão durante a estimulação neural sustentada como durante o exercício físico, por exemplo, está muito associada à síndrome do colapso hereditário induzido pelo exercício físico (10, 12).


Predisposição:

Essa afecção foi descrita em cães Border Collie, Labrador Retriever e nos Galgos (10). Entretanto, os Border Collie não apresentam a mutação na dinamina 1, não apresentam mutação genética maligna da hipertermia e apresentam os sintomas clínicos da síndrome do colapso hereditário induzido pelo exercício físico (10).


Sintomatologia clínica:

A síndrome do colapso hereditário induzido pelo exercício é caracterizado por fraqueza do quadril, fraqueza ocasional dos membros, ataxia e colapso, e pode ser responsável por alguns casos de hipertermia e intermação (10, 12).

Devido à paralisia de laringe, os pacientes apresentam inadequado fluxo de ar no trato respiratório e há a maior predisposição a desenvolver intermação (12, 17).

Etiologia da intermação

  • Exógena

    Anfetamina: 

    A anfetamina eleva a temperatura corporal (11, 25).


    Diuréticos:

    Os diuréticos como a furosemida, por exemplo, diminuem a dissipação de calor corporal (11, 12).


    Exposição à altas temperaturas ambientais, sem sombra, ventilação e água fresca (12. 24). 


    Fenotiazínicos:

    Os fenotiazínicos diminuem a dissipação de calor corporal devido à diminuição do débito cardíaco e diminuição do volume sanguíneo (12).


    Halotano: 

    O halotano eleva a temperatura corporal (11, 25).


    Inotrópicos negativos:

    Os inotrópicos negativos diminuem a dissipação de calor corporal devido à diminuição do débito cardíaco e diminuição do volume sanguíneo (12).


    Metaldeído:

    O metaldeído eleva a temperatura corporal (11, 25).


    Nozes de macadâmia: 

    As nozes de macadâmia elevam a temperatura corporal (25).


    Organofosforados: 

    Os organofosforados elevam a temperatura corporal (11, 25).

  • Endógena

    Convulsões:

    As convulsões ocasionam em tremores musculares involuntários que elevam a temperatura corporal (10).

    A convulsão eleva o metabolismo e o consumo de oxigênio, aumenta a liberação de catecolaminas (que aumentam a frequência cardíaca e pressão arterial sistêmica), ocorre hipertermia secundária à atividade muscular exacerbada e o paciente pode apresentar salivação e/ou vômito (12).


    Eclampsia (25).


    Exercício físico (25).


    Febre (25).


    Hipertermia hormonal (hipertireoidismo) (25).


    Miopatia e rigidez muscular (12).

Classificação

Independentemente da classificação, em todos os casos de intermação a produção de calor corporal excede a capacidade dos mecanismos do organismo de perder o calor corporal (1).

A intermação clássica, também chamada de intermação ambiental, ocorre devido à exposição a altas temperaturas ambientais e/ou em pacientes que são privados de sombra e água, por exemplo (1-2, 4, 25).

A intermação clássica acomete frequentemente os pacientes muito novos ou idosos, doentes, que apresentam alguma afecção crônica, com imunossupressão, que estão confinados ou acorrentados em ambientes que não apresentam proteção ao calor ambiental e/ou que não possuem acesso à água (12, 21).

A intermação clássica pode ocorrer em casos em que o paciente está confinado a um ambiente fechado com pouca ventilação como preso no interior de um automóvel ou um prédio fechado, por exemplo (12, 25).

A forma mais comum dos gatos desenvolverem intermação ocorre quando ficam presos acidentalmente dentro de gavetas de roupas ou presos dentro de automóveis por longos períodos (19, 35).

A intermação clássica também pode ocorrer em situações em que o paciente, principalmente os pacientes predispostos a desenvolver intermação, está em um ambiente quente e em uma situação de estresse como nos casos de atendimento médico veterinário ou nos casos de salas de banho-e-tosa (4, 21).

Os pacientes que são predispostos ou não a desenvolver intermação e que estão em atendimento médico veterinário ou em salas de banho-e-tosa devem ser monitorados frequentemente (4).

A intermação por esforço ocorre devido ao excesso de exercício físico voluntário ou não com excessiva produção de calor corporal, pois o exercício físico pode exceder os mecanismos termorregulatório e pode potencialmente impactar na saúde dos pacientes (1, 4, 13, 25). 

Há um estudo científico relatando que a intermação por esforço corresponde a 74,2% dos casos de intermação nos cães (4).

A intermação por esforço ocorre principalmente durante o período de aclimatização, que corresponde a porção final da primavera e porção inicial do verão, e durante o excesso de exercício físico em regiões com alta humidade e/ou com alta temperatura ambiental (1, 4, 25, 33). 

Entretanto, o paciente que realiza excesso de exercício físico com excessiva produção de calor corporal pode desenvolver intermação mesmo sem que a temperatura ambiental esteja elevada, ou seja, pode desenvolver intermação em qualquer temperatura ambiental (1, 4, 21, 25). 

Em seres humanos, a intermação é normalmente observada em pacientes jovens que colapsam devido ao estresse térmico durante um exercício físico em altas temperaturas ambientais (12). 

Os pacientes que apresentam algum impedimento para a dissipação de calor corporal como nos casos de obesidade, síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos, colapso de traqueia e/ou paralisia de laringe, por exemplo, normalmente desenvolvem a intermação por esforço (19).

Respostas sistêmicas e celulares devido ao estresse térmico

Definição:

A aclimatização é o processo fisiológico dependente de tempo que permite o organismo a se adaptar a variações ambientais e climáticas (10, 12, 25).


Função:

A aclimatação induz mudanças fisiológicas, comportamentais adaptativas e integrativas, melhorando a capacidade do indivíduo de lidar com o calor ambiental extremo (10, 33). A aclimatização é obtida através do estímulo contínua ou repetida do sistema termorregulador devido à elevação da temperatura ambiente, mas a aclimatização possui ação prolongada sendo que pode perdurar por várias semanas (33).


Quanto tempo precisa para ocorrer a aclimatização?:

Nos animais e similar aos seres humanos, o processo de aclimatização é parcialmente realizado com 10 a 20 dias, mas somente é totalmente realizado com 60 dias (12, 25, 33). 


Efeitos no organismo durante a aclimatização?:

Quando há aumento da temperatura ambiental, líquido corporal é conservado em maior quantidade devido à ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e ativação do hormônio antidiurético (12, 25). Outros mecanismos compensatórios são a preservação e reabsorção do sódio sérico, taquicardia, aumento do débito cardíaco, aumento da taxa de filtração glomerular, expansão do volume plasmático e aumento na habilidade de resistir rabdomiólise externa (12, 25, 33).

As características da aclimatização são diminuição da temperatura corporal central, diminuição da frequência cardíaca, aumento da reserva cardiovascular e maior capacidade de evaporação (12, 33).

Sem esses mecanismos de adaptação, ocorre hipovolemia e desidratação, ocasionando em vasoconstrição e diminuição do débito cardíaco (25).

Condução: 

A condução ocorre quando o corpo está em contato com uma superfície mais fria como uma mesa metálica, por exemplo, permitindo a transferência de calor do paciente para a superfície (25). 

A troca de calor corporal por condução é auxiliada pela vasodilatação periférica e aumento da circulação cutânea que ocorre durante temperaturas ambientais quentes (33). 

A condução geralmente é responsável por uma pequena porção da dissipação de calor do animal (33).


Convecção: 

A convecção é a transferência de calor corporal quando o ar passa pelo corpo, assim como ocorre quando há vento, ventiladores e ar-condicionado (25, 33). 


Evaporação:

A evaporação é o processo endotérmico de um fluido corporal se transformando em vapor (12, 25). 

Quando a temperatura ambiental passar de 32° C, a evaporação é o principal meio de perda de calor utilizada pelo corpo (25). 

Em seres humanos, o resfriamento por evaporação ocorre principalmente através da transpiração (25). Apesar de cães e gatos conseguirem transpirar através dos coxins, a transpiração é um método ineficaz para perda de calor nessas espécies (19, 20, 25).

Os cães e gatos realizam o resfriamento por evaporação aumentando a frequência respiratória, que aumenta a quantidade de ar com a superfície das mucosas oral e nasal, e regula o resfriamento no trato respiratório, mas também eleva um pouco a temperatura corporal devido ao aumento da movimentação muscular torácica (12, 20, 25). 

Em cães, as conchas nasais fornecem uma grande área de superfície para a evaporação da água, das mucosas úmidas, desempenhando assim um papel importante na perda de calor através da respiração ofegante, enquanto a hipersalivação aumenta a eficiência evaporativa através da evaporação das mucosas orais e da língua (10, 21, 33).

Com altas temperaturas ambientais e umidade ambiental relativa maior do que 35%, a respiração ofegante torna-se progressivamente menos eficaz para perder o calor corporal excessivo e esse mecanismo de resfriamento corporal em cães é anulado quando a umidade ambiental relativa estiver maior do que 80%, além de que há o aumento da atividade muscular para realizar a respiração ofegante e isso gera calor por si só (10, 19. 33).

A desidratação pode prejudicar a perda de calor pela evaporação devido à menor quantidade de fluido no sistema respiratório e devido à diminuição da perda de calor por convecção e radiação devido à diminuição do fluxo sanguíneo periférico (25, 33).


Radiação:

A radiação é o processo natural da perda de calor do organismo para o ambiente (25).

A radiação envolve transferência eletromagnética do calor corporal para o ambiente (33).

Os cães primeiramente perdem calor por convecção e radiação, e posteriormente por evaporação (13).

Em cães, mais do que 70% do calor corporal são perdidos através da radiação e da convecção da superfície corporal quando a temperatura ambiente for inferior à 32º C (10, 13, 17, 20, 33).

Em cães, conforme a temperatura ambiente se eleva e se aproxima ou ultrapassa a temperatura corporal, a dissipação de calor corporal por convecção e radiação ficam limitadas e se inicia a perda de calor por evaporação (10, 13, 17, 20, 33).

Introdução:

As proteínas do choque térmico, também conhecidas como “proteínas do estresse”, são proteínas de classe grande produzidas por quase todas as células do organismo dos mamíferos e são produzidas quando há aumento agudo na temperatura corporal e em outros fatores estressantes (10, 12, 25, 33).


Quais são as proteínas do choque térmico?:

Há diversas proteínas do choque térmico produzidas pelo organismo, mas as principais proteínas produzidas pelo organismo durante o estresse térmico são a HSP70 e a HSP72 (10, 12, 25, 33).


Síntese:

Apesar de receber esse nome após terem sido primeiramente descobertas que a sua síntese era induzida por choque térmico, posteriormente notou-se que as proteínas do choque térmico também são sintetizadas em situações de lesão e reparação tecidual, febre, inflamação, infecção viral, infecção bacteriana, injúria oxidativa, exposição à metais pesados e hipoglicemia (33).

A presença de HSP72 no sangue pode indicar a extensão da lesão tecidual e da morte celular durante os casos de intermação (33).

Em ratos e camundongos, notou-se que há super-expressão de HSP72 em diversos órgãos vitais como cérebro e coração, e confere proteção contra a hipertermia, intermação, choque circulatório e lesão isquêmica cerebral (33). 


Funções:

As proteínas do choque térmico são fundamentais na manutenção da homeostase celular, ajudam a manter as funções intracelulares e a manter a estabilidade intracelular, tanto em condições fisiológicas quanto em situações de estresse corporal (33). 

As proteínas do choque térmico protegem o organismo contra o estresse oxidativo, diminuem as espécies reativas do oxigênio, protegem o organismo em situações de hipertermia, hipotensão arterial sistêmica e isquemia cerebral (7, 25). 

Há um estudo científico relatando que o acúmulo na concentração das proteínas do choque térmico acelera a recuperação espontânea das alterações sistêmicas (6).

As proteínas do choque térmico atuam como “acompanhante proteico” ou “guardião molecular”, pois essas proteínas induzem um estado de tolerância celular, ajudam a manter a função intracelular, previne a agregação inadequada de proteínas induzidas por estresse, apresentam ação anti-inflamatória intracelular, ajudam a manter a integridade estrutural das proteínas, aumentam a habilidade das enzimas continuarem a funcionar, facilita a reparação de proteínas, regulam e oferecem proteção contra apoptose, mantem o conjunto de antioxidantes, protegem contra o estresse oxidativo e diminuem a ativação do fator nuclear-kB, que é um fator de transcrição pró-inflamatório (6, 12, 25. 33). 

As proteínas do choque térmico apresentam efeitos imunoestimulantes, pois há interação com o receptor toll-like e, consequentemente, ocorre a ativação dos sistemas imunológico e inflamatório (6). 

As proteínas do choque térmico são essenciais para a proteção de todo o organismo através da diminuição da secreção de interleucinas-1 e do fator de necrose tumoral-α, confere resistência aos efeitos citotóxicos de citocinas inflamatórias, além de realizar a manutenção da integridade da barreira endotelial e epitelial intestinal, previne a translocação de endotoxinas e aumentam a tolerância do organismo contra as endotoxinas (33).

Durante a intermação, as proteínas do choque térmico potencializam a sensibilidade e a capacidade da resposta do reflexo dos barorreceptores através da sua expressão no núcleo do trato solitário, que é o principal receptor das fibras aferentes dos barorreceptores na medula oblonga, confere cardioproteção diminuindo a ocorrência de hipotensão arterial sistêmica e bradicardia, e prevenindo a desnaturação proteica irreversível (12, 25, 33).

Definição:

A resposta de fase aguda ao estresse térmico é uma reação sistêmica coordenada que envolve células endoteliais, leucócitos e células epiteliais, com o objetivo de restabelecer a homeostase, protegendo os tecidos contra lesões teciduais causadas pelo processo inflamatório e promovendo proteção contra lesão tecidual e reparação tecidual a até a cura (25, 33).


Início da resposta de fase aguda:

A resposta de fase aguda é iniciada e modificada por citocinas e citocinas moduladoras (fator de necrose tumoral-α, interleucina-1, interleucina-6, interleucinas-8, interleucinas-10 e interleucinas-12), que são responsáveis por mediar a febre, pela leucocitose e ativação dos leucócitos, pela síntese de proteínas da fase aguda, pelo catabolismo muscular, pela estimulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e pela ativação das células endoteliais (24, 33).

A interleucina-6 (IL-6) é a maior proteína indutora da fase aguda e é produzida em resposta a um estresse por calor para modular a resposta inflamatória local e sistêmica (25, 33). 

A interleucina-6 controla a quantidade de citocinas inflamatórias e estimula o fígado a produzir antioxidantes e proteínas da fase aguda, que são proteínas anti-inflamatórias, com a finalidade de inibir a produção de espécies reativas de oxigênio e a liberação de enzimas proteolíticas de leucócitos ativados (25, 33).


Funções:

A resposta de fase aguda pode ser protetora ou destrutiva, inflamatória ou anti-inflamatória, ou uma combinação, pois os mediadores da resposta de fase aguda atuam de forma diferente dependendo da origem da lesão, do curso do processo ou dos efeitos combinados dos diferentes mediadores (24).

Alguns pacientes podem apresentar anemia na resposta de fase aguda devido à diminuição tanto da produção quanto da ação da eritropoietina (25).

Alterações metabólicas como proteólise, osteoporose e alterações no metabolismo lipídico também podem ocorrer na resposta de fase aguda (25).

A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), sepse, choque séptico e resposta ao estresse apresentam graus variados da resposta da fase aguda, além de que a resposta de fase aguda exagerada e inflamatória está envolvida com o desenvolvimento da intermação (25).

Introdução:

O calor é produzido pelo próprio metabolismo (endógena), ganho através do meio ambiente (exógena) ou, mais frequentemente, pela combinação do calor endógeno com calor exógeno (25, 35).

O organismo possui um mecanismo termorregulatório eficiente em manter a temperatura corporal (12).

O centro termorregulatório, localizado na região pré-óptica do hipotálamo e que apresenta numerosos termorreceptores, mantem a temperatura corporal constante mesmo nas mais diversas condições ambientais, através do equilíbrio da dissipação do calor e da produção do calor (12, 25, 33). 


Mecanismos da termorregulação:

Após receber sinais de órgãos sensíveis à temperatura como a pele, vísceras e sistema nervoso central, o centro termorregulatório promove a ativação do sistema neuro-hormonal e na ativação de mecanismos de resfriamento corporal como a convecção, radiação, condução e evaporação para manter a temperatura corporal central quase constante (12, 32-33). 

Quando a temperatura corporal aumenta em menos do que 1° C, os termorreceptores centrais e periféricos reconhecem essa elevação que vão ativar o centro termorregulatório hipotalâmico, além de também ativar o centro respiratório para aumentar a frequência respiratória e o volume minuto (12, 25, 33).

As respostas eferentes no centro termorregulatório hipotalâmico ocasiona em vasoconstrição renal, vasoconstrição esplênica e vasodilatação cutânea para aumentar o fluxo sanguíneo na superfície corporal (12, 25, 33). 

Para realizar esses efeitos, o centro termorregulatório hipotalâmico ativa o sistema nervoso simpático, aumenta a liberação de catecolaminas, ocorre a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e aumenta a liberação de endotelina (25, 33).

Em cães, os sinais neurogênicos hipotalâmicos do centro da respiração também fazem parte do mecanismo compensatório inicial, promovendo taquicardia, aumento do débito cardíaco e aumento na ventilação-minuto (25, 33).

Fisiopatologia

  • Introdução

    A intermação ocorre quando o organismo do paciente não consegue dissipar o calor gerado pelo próprio metabolismo, exercício físico e/ou elevação da temperatura ambiente, a temperatura corporal ultrapassa de 41º C, os mecanismos termorregulatório ficam ineficientes e se iniciam diversos processos inflamatórios, microcirculatórios, vasculares, hemostáticos e danos teciduais com gravidade e taxa de progressão variada entre os pacientes (5-6, 12, 25).

    O desequilíbrio entre a produção de calor e a dissipação de calor é impactado pela termorregulação, aclimatização, pela resposta de fase aguda, pela produção de proteínas do choque térmico e pelos fatores de predisposição do paciente (25, 33). 

    Com a intermação ocorre lesão tecidual térmica direta, citotoxicidade direta, formação de radicais livres, ativação de neutrófilos, formação de espécies reativas do oxigênio, indução de estresse oxidativo celular, disfunção dos órgãos, aumento da demanda metabólica, choque circulatório, hipóxia, endotoxemia, liberação e ativação de citocinas e quimiocinas, ativação e/ou lesão às células endoteliais, ativação da coagulação e fibrinólise, além da ativação e amplificação da inflamação (5, 7, 8 25). 

    A endotoxemia, hipoperfusão, isquemia e ativação dos neutrófilos contribuem para a lesão endotelial difusa em diversos órgãos como endocárdio, epicárdio e capilares intersticiais pulmonares (8). 

    A lesão endotelial promove o aumento da permeabilidade com consequente edema, sendo esse mecanismo similar ao da sepse (8).

A citotoxicidade direta ocasionada pelo calor ocorre em vários tecidos e é dependente da temperatura corporal máxima atingida (25). 

Quando a intermação se instala, há lesão severa dos órgãos internos (3). 


Lesão tecidual x temperatura corporal:

41 a 42° C:

A temperatura corporal entre 41 a 42° C pode ocasionar lesão cerebral permanente, apoptose em fígado, baço, timo, linfonodos e na mucosa intestinal (17, 25). 


43° C:

Quando a temperatura corporal estiver acima de 43° C, há lesão orgânica severa, a fosforilação oxidativa é desacoplada, as enzimas são desnaturadas criticamente e há um aumento importante na taxa de mortalidade (20, 21, 25, 28, 33). 


43° C:

Quando a temperatura corporal atingir entre 49 a 50° C e se manter por 5 minutos ou menos, ocorrem a desnaturação das proteínas do citoesqueleto e das enzimas celulares, há a liquefação da membrana lipídica celular, há dano na mitocôndria celular, todos os processos celulares são destruídos, todas as estruturas celulares são destruídas e ocorre a necrose celular (20, 21, 25, 28, 33).

Definição:

As histonas são proteínas nucleares alcalinas com carga positiva e serve como unidade de bloco estrutural básico da cromatina, tanto que a deficiência de histona ocasiona em desorganização do DNA genômico e a uma estrutura ineficaz (9-10). 


Quais são as histonas?:

Há no total 5 tipos de histonas diferentes que são divididas em histonas centrais (H2A, H2B, H3, H4) e histonas ligantes (H1 e H5) (9-10).


Liberação e ativação:

As histonas são liberadas das células lesadas e são ativadas pelos neutrófilos e mastócitos e pelas armadilhas neutrófilas extracelulares (processo também chamado de netose) (9).


Funções:

As histonas apresentam propriedades tóxicas, pró-inflamatórias e pró-trombóticas (9).

Devido a uma lesão celular, as histonas saem do meio intracelular para o meio extracelular, contribuindo com a disfunção endotelial, falência orgânica e óbito do paciente (9).

Em ratos, a administração de histonas ocasiona em migração neutrofílica, lesão e disfunção endotelial, hemorragias e óbito, mas os mecanismos tóxicos das histonas somente são compreendidos parcialmente. Entretanto, acredita-se que as histonas com carga positiva (principalmente as histonas H3 e H4) se ligam a fosfolipídios com carga negativa da membrana celular plasmática ocasionando em ruptura da membrana celular e influxo de cálcio (9). 

Acredita-se, também, que as histonas isoladamente não lesam as células e que a lesão celular ocorre devido a um sinergismo das histonas com outros fatores pró-inflamatórios como as proteases oxidantes e fosfolipase, por exemplo (9).

Acredita-se que as histonas extracelulares atuam como potencial mediador de infecção sistêmica letal como infecção por E. coli, sepse e peritonite, por exemplo, e em afecções inflamatórias não infecciosas como síndrome da isquemia-reperfusão sistêmica, pancreatite, toxicidade tecidual induzida por drogas e acidente vascular encefálica, por exemplo (9). 


Biomarcador de prognóstico:

A concentração de histonas sérica é utilizada como biomarcador da gravidade do estresse sistêmico (9).

Há um estudo científico relatando que a dinâmica da concentração das histonas séricas serve como indicador da gravidade da afecção, estresse e o resultado geral, e como um potencial novo alvo terapêutico em várias doenças inflamatórias (10).

Os pacientes com intermação apresentam elevação na concentração sérica de histonas, indicando que as histonas apresentam papel importante nas alterações hemostáticas e no processo da inflamação nos casos de intermação (9). 

Há um estudo científico relatando que a concentração de histonas séricas não se eleva de forma importante em casos não sépticos e nos traumas leves e somente se eleva de forma importante nos quadros sépticos e nos traumas graves, sugerindo que tem que uma lesão celular e falência de órgão mais importante para que as histonas sejam liberadas para o meio extracelular (9).


Neutralização:

As histonas são neutralizadas por heparina, albumina, proteína C e anticorpos específicos (9-10).

Em condições normais, os pacientes com hipertermia apresentam aumento do débito cardíaco, vasodilatação cutânea e aumento da resistência vascular sistêmica devido à vasoconstrição renal, vasoconstrição hepática, vasoconstrição no trato gastrointestinal e vasoconstrição esplênica (10, 12, 25).

Esse mecanismo é uma resposta de proteção do organismo de deslocar o fluxo sanguíneo do centro do corpo para a periferia do corpo para prevenir o aumento da temperatura corporal e para facilitar a perda de calor através da pele, mas esse mecanismo pode comprometer a circulação sanguínea esplênica, reduz o voluma plasmático sanguíneo e ocorre choque circulatório (10, 12, 25, 33-34).

Entretanto, durante a intermação, essa vasodilatação cutânea é inibida pelo centro hipotalâmico vasomotor e ocorre a vasoconstrição cutânea e vasodilatação esplênica (8, 33).

Acredita-se que a vasodilatação esplênica ocorra devido à superprodução de óxido nítrico, que ocasiona em vasodilatação esplênica descontrolada e isso precede o colapso vascular (10).

A associação da vasodilatação esplênica com a vasoconstrição cutânea ocasiona no acúmulo de sangue nos vasos, há diminuição da circulação sanguínea, hipotensão arterial sistêmica, diminuição da perfusão tecidual (também chamada de hipoperfusão tecidual), hipóxia tecidual, diminuição do débito cardíaco e, consequentemente, diminuição dos mecanismos de dissipação calor e acúmulo de calor corporal (10, 25, 33).

Essas alterações circulatórias também podem ser ocasionadas nos casos em que o paciente com intermação apresenta lesão cerebral e edema difuso acometendo o centro hipotalâmico vasomotor (8).

Devido à hipoperfusão tecidual global, destruição celular maciça e a lesão térmica tecidual grave, o choque e a resposta inflamatória sistêmica ocasionam em lesão endotelial e predispõe o paciente a desenvolver disfunção múltipla dos órgãos, que é a complicação mais grave da intermação (25, 33).

À medida que a temperatura ambiental aumenta ainda mais e se aproxima da temperatura corporal, a dissipação de calor por convecção e radiação através da pele diminui, e a evaporação, principalmente através da respiração ofegante, se torna o principal mecanismo de perda de calor (10).

A severidade da hipertermia está diretamente relacionada à lesão em si, hipoperfusão e do aumento da permeabilidade (hiperpermeabilidade) em trato gastrointestinal (12).

Durante a hipertermia e o exercício físico, ocorre a contração esplênica e a vascularização sanguínea se desloca do centro do corpo para os músculos e para a pele para suprir a demanda de oxigênio desses órgãos e para auxiliar na perda de calor, mas esse deslocamento da vascularização limita a troca de calor vascular local e ocasiona em hipertermia, hipóxia, isquemia e hiperpermeabilidade intestinal (8, 10, 34).

O intestino lesado produz grande quantidade de óxido nítrico e espécies de oxigênio e nitrogênio altamente reativas e citocinas inflamatórias, que promove a disfunção da barreira circulatória intestinal, agravam a lesão na mucosa intestinal e ocasiona em necrose intestinal (8, 10).

A mucosa intestinal tem a função de promover uma barreira protetora entre o intestino e o sistema circulatório estéril (12). As citocinas inflamatórias e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio geradas pela lesão intestinal aumentam a lesão intestinal, ocorre necrose tecidual e o paciente pode começar a apresentar hematêmese e diarreia hemorrágica (10, 12, 33).

As alterações estruturais e funcionais intestinais quebra a barreira protetora entre o intestino e o sistema circulatório, há o aumento da permeabilidade intestinal e facilitam a translocação bacteriana e de endotoxinas do lúmen intestinal para a circulação sanguínea, agrava a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, sepse e que pode evoluir para disfunção múltipla dos órgãos e óbito (10, 12).

Os pacientes com intermação normalmente apresentam alterações de coagulação (25).

As alterações de coagulação ocasionadas pela intermação ocorrem devido à lesão térmica direta ao endotélio vascular da microcirculação e às plaquetas, à ativação da via extrínseca de coagulação, ativação de plasmina, à ativação de monócitos/macrófagos, formação sistêmica de fibrina com retardo na remoção de fibrina devido à alteração na fibrinólise, liberação de tromboplastina, supressão dos mecanismos fisiológicos de anticoagulação, além da trombina, do fator VIIa e do fator Xa da coagulação serem pró-inflamatórios e acabam ativando as células endoteliais, as plaquetas e os leucócitos (5, 25, 33, 35).

O endotélio lesionado libera tromboplastina tecidual, quinina, calicreína e fator XII, ativando assim as cascatas de coagulação intrínseca e o sistema complemento, ocasionando em hipercoagulabilidade, formação de múltiplos microtrombos, coagulação intravascular disseminada, síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e, posteriormente, em disfunção múltipla dos órgãos (5, 8, 10, 12, 33).

Como o fígado é responsável pela síntese de diversos fatores de coagulação e manutenção da homeostasia, a lesão térmica direta hepática, hipóxia hepática e a presença de microtrombos ocasionam lesão hepática e, consequentemente, pode agravar as alterações hemostáticas e hemorragias (5, 10, 12).

A temperatura corporal superior a 42º C aumenta a coagulação plaquetária, aumenta a ativação da cascata de coagulação e melhora a fibrinólise (10).

A coagulação e a fibrinólise ocorrem já nos momentos iniciais da intermação e podem perdurar por muitas horas após a instalação da afecção (25).

Durante a fase excessiva de coagulação intravascular disseminada, as plaquetas e os fatores de coagulação como o fibrinogênio, por exemplo, são consumidos, resultando em trombocitopenia, trombopatia, além da depleção e inativação dos fatores de coagulação (5).

Os efeitos ocasionados pelas alterações de coagulação sustentada são hemorragias, microtrombose generalizada, síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), coagulação intravascular disseminada (CID) e disfunção múltipla dos órgãos (25).

Complicações da intermação

As alterações hepáticas ocorrem devido à lesão térmica direta hepática, à diminuição da perfusão decidual e hipóxia tecidual secundário à vasodilatação periférica e aos microtrombos hepáticos (5, 10, 12).

Os pacientes com intermação podem apresentar lesões ou disfunções neurológicas, pois a hipertermia extrema ocasiona em hipoperfusão cerebral secundária à alcalose respiratória, hipoglicemia e choque (10, 33).

A combinação da lesão térmica direta com a alcalose respiratória, hipoglicemia e o choque ocasionam em lesão vascular, edema cerebral, hemorragia, tromboembolismo, trombose e infarto vascular multifocal (10, 16, 33).

Os pacientes com alterações neurológicas devido à intermação podem apresentar cegueira cortical, coma, estado semicomatoso, convulsões, estupor, desorientação e delírio, por exemplo (10, 33). 

Diferentemente dos seres humanos que apresentam lesão térmica direta no cérebro, há evidências de que o cérebro dos cães apresenta resistência térmica intrínseca e acredita-se que a lesão térmica direta exerça pouca lesão cerebral, além dos cães apresentarem um maior resfriamento cerebral através da rete mirabile (10, 33).

 A rete mirabile é uma complexa rede de vasos sanguíneos oriunda da artéria carótida, passa por um seio venoso e retira sangue resfriado da cavidade nasal, resfriando assim o cérebro (33). Na rete mirabile, o sangue arterial quente troca calor com o sangue venoso mais frio e, consequentemente, resfria o suprimento de sangue para o cérebro (33). A rete mirabile também está presente nos gatos, cavalos, primatas, roedores e nos lagomorfos (33).

Os pacientes com intermação podem apresentar choque distributivo e/ou hipovolêmico (10, 12). Os pacientes que estão em choque hipovolêmico, que pode ser devido ao quadro de intermação ou não, podem apresentar colapso agudo, alteração no nível de consciência, hipoglicemia e mucosas hiperêmicas (6, 25). 

Os pacientes que desenvolvem choque secundário à intermação são mais predispostos a desenvolverem coagulação intravascular disseminada, doença renal aguda e síndrome da angústia respiratória aguda (34).

Além da coagulação intravascular disseminada ser uma complicação comum da intermação dos cães e dos seres humanos, a coagulação intravascular disseminada pode ser subclínica inicialmente, mas com o tempo passa a ser mais evidente (2, 10).

Há um estudo científico relatando que 50% dos cães e 30% dos seres humanos com intermação desenvolvem coagulação intravascular disseminada (5).

O aumento da resistência vascular pulmonar e a lesão térmica direta no endotélio pulmonar podem ocasionar em cor pulmonale nos pacientes com intermação (12).

A combinação do insulto térmico direto, hipovolemia severa, choque, endotoxemia e coagulação intravascular disseminada ocasionam em hipoperfusão tecidual, necrose tecidual, diátese hemorrágica e, consequentemente, disfunção múltipla dos órgãos (10).

A disfunção múltipla dos órgãos é a complicação mais séria da intermação (8). 

Os órgãos mais comprometidos nos casos de disfunção múltipla dos órgãos ocasionadas pela intermação são o cérebro, rins, trato gastrointestinal, fígado, coração e musculatura esquelética (8, 33). 

O paciente com disfunção múltipla dos órgãos pode apresentar colapso circulatório, encefalopatia, doença renal aguda, coagulação intravascular disseminada, rabdomiólise, lesão miocárdica, insuficiência hepática, isquemia ou infarto intestinal, síndrome da angústia respiratória aguda e disfunção endotelial (25).

A doença renal aguda é uma complicação comum da intermação de cães, gatos e seres humanos e possui etiologia multifatorial (2, 10, 24, 26, 34, 36). 

A doença renal aguda ocorre devido à lesão glomerular e tubular renal do néfron ocasionada pela desidratação severa, choque hipovolêmico, choque distributivo, endotoxemia, mediadores vasoativos e citocinas locais e sistêmicas liberadas durante a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, hipotensão arterial sistêmica, hipóxia, mioglobinemia e mioglobinúria ocasionada pela rabdomiólise, lesão térmica direta, acidose, e microtrombose e necrose coagulativa devido à coagulação intravascular disseminada (2, 8, 10, 12, 25, 34, 36). 

A mioglobina, que é uma pequena proteína heme e é liberada após a lesão na fibra muscular, aumenta a produção de ácido úrico, que vai ser depositada nos túbulos renais e ocasionar tanto doença renal aguda como também promove as coagulopatias (12, 29, 36). 

Em seres humanos, a elevação na mioglobina sérica está associada à maior chance de ocorrer doença renal aguda e, consequentemente, à mortalidade (29). 

A mioglobina sérica deve diminuir rapidamente com a excreção renal, mas a exposição contínua e a concentração sérica considerável apresenta efeito cumulativo, o que contribui para a doença renal aguda nos pacientes com intermação (29). 

Os pacientes que desenvolvem doença renal aguda podem apresentar diminuição na taxa de filtração glomerular, diminuição da produção urinária e alteração na excreção dos solutos urinários (37).

A hipoglicemia pode ser ocasionada pelo aumento da utilização ou diminuição da produção de glicose devido ao aumento generalizado da demanda por ATP secundário à elevação da temperatura corporal, sepse, lesão hepatocelular, convulsão prolongada ou doença pré-existente (24, 33).

A pancreatite aguda pode ser ocasionada por lesão térmica direta e lesão bioquímica no pâncreas (10, 33).

A lesão nas fibras musculares, a diminuição da concentração de adenosina trifosfato (ATP) devido à apoptose das células musculares e o aumento do cálcio intracelular que ocorre devido ao aumento da produção de calor corporal ocasionam em rabdomiólise (12, 29). 

Com exceção dos equinos, os machos são mais predispostos a desenvolver rabdomiólise do que as fêmeas, pois o estrógeno apresenta um efeito protetor muscular (29). 

A rabdomiólise está presente durante e após o insulto térmico e pode piorar nas primeiras 24 horas de hospitalização do paciente com intermação devido à hipoperfusão muscular esquelética e cardíaca secundária ao choque hipovolêmico e choque distributivo, formação de microtrombos devido à coagulação intravascular disseminada (10).

A lesão nas fibras musculares ocasiona em produtos da degradação celular como as enzimas creatina quinase, lactato desidrogenase, potássio e mioglobina (29).

Os eventos desencadeados pela intermação são muito similares aos eventos desencadeados pela sepse e que pode evoluir para disfunção múltipla dos órgãos (5, 25).

O aumento da resistência vascular pulmonar, a lesão térmica direta, o aumento da permeabilidade vascular devido à lesão bioquímica pulmonar e a coagulação intravascular disseminada ocasionam em edema, hiperemia e hemorragias pulmonares fazendo com que o paciente com intermação desenvolva a síndrome da angústia respiratória aguda, também chamada de edema pulmonar não-cardiogênico, e que pode evoluir para insuficiência respiratória (8, 10, 12, 33). 

Para realizar o diagnóstico de síndrome da angústia respiratória aguda, é necessário realizar hemogasometria, radiografia torácica e ecocardiograma (34).


Sintomatologia clínica

  • Introdução

    Dependendo se a aclimatização do paciente não foi realizada adequadamente, a gravidade dos sintomas clínicos da intermação está correlacionada com a temperatura retal máxima atingida e com a duração da temperatura máxima atingida (10).

    Entretanto, os sintomas clínicos nos mais diversos sistemas do organismo podem somente se desenvolver após 3 a 5 dias do insulto térmico inicial (12).

Alteração no pulso femoral: 

O pulso femoral dos pacientes com intermação pode ser bastante irregular, podendo ser hiperdinâmico a fraco (25, 35).


Arritmia:

A presença de déficit de pulso femoral indica a presença de arritmia cardíaca (25). 

As arritmias cardíacas como a taquicardia ventricular e a contração ventricular prematura são comuns nos casos de intermação (8, 10, 12, 30). 

As principais etiologias para as arritmias cardíacas nos casos de intermação são lesão térmica direta, lesão e hipoperfusão miocárdica, hipoxemia, acidose lática e desequilíbrio eletrolítico, injúria térmica direta e coagulação intravascular disseminada (8, 10).


Taquicardia (25).

Hiperemia e edema cutâneo moderado a severa (8).


Petéquias e equimoses:

O paciente com intermação pode apresentar petéquias e equimoses nas mucosas, nas orelhas ou na pele (25). 

As petéquias e equimoses estão presentes em 63% dos casos de intermação e é um dos sintomas mais comuns na apresentação da intermação (2, 6).

Cólica (29).


Diarreia gelatinosa (33).


Diarreia hemorrágica: 

A diarreia hemorrágica pode estar presente já na admissão da intermação, mas o paciente pode desenvolver posteriormente ao início do tratamento (25). 

A diarreia hemorrágica está presente em 48% dos casos de intermação (2).


Hematoquezia (10).


Melena:

A melena é um marcador precoce de intermação severa (8, 19)


Pancreatite (8).


Vômito (6).

Introdução: 

Apesar de os cães e gatos apresentarem maior resistência à lesão térmica direta no sistema nervoso central, acredita-se que as principais causas das alterações no sistema nervoso central ocasionadas pela intermação são devido à alcalose respiratória, disfunção metabólica, hemorragia, hipóxia, trombos, hipoglicemia e choque (33-34).


Alterações no nível de consciência (34).


Ataxia (25).


Cegueira: 

A cegueira ocasionada pela intermação é de origem cortical (12, 24). 


Colapso:

O colapso está presente em 98% dos casos de intermação e é uma dos principais sintomas na apresentação (2, 6). 


Coma ou semicomatoso:

O paciente com intermação pode apresentar quadro semicomatoso ou quadro de coma, sendo que o coma está presente em 31% dos casos de intermação (2, 33). 


Convulsão:

A convulsão é um dos sintomas mais comuns na apresentação dos pacientes com intermação e está presente em 35% dos casos (6, 24).


Delírio:

O delírio está presente em 28% dos casos de intermação (2). 


Depressão média a profunda (2, 25). 


Desorientação (12).


Diminuição dos reflexos centrais (12).


Estupor: 

O estupor está presente em 39% dos casos de intermação (2). 


Prostração (25)


Sem alteração do sistema nervoso central: Não são todos os cães com intermação que apresentam alteração no sistema nervoso central logo na admissão (12).

Apneia ou respiração agônica (25).


Taquipneia:

Os pacientes com intermação normalmente apresentam taquipneia (35).

A taquipneia é um mecanismo fisiológico dos cães de resfriamento corporal, mas pode ser devido ao edema pulmonar, tromboembolismo pulmonar, pneumonia bacteriana secundária, pneumotórax e/ou à síndrome da angústia respiratória aguda (1, 8, 16, 25). 

A taquipneia também pode estar presente nos casos de exercício físico, excitação ou ansiedade do paciente (25). 

Os pacientes com intermação apresentam alteração na perfusão pulmonar no qual algumas áreas ficam desvitalizadas e susceptíveis a infecção e necrose (16). 

À medida que o parênquima pulmonar perde a sua integridade, ocorre o pneumotórax com vazamento contínuo de ar para a pleura (16). Devido ao pulmão desvitalizado, à instabilidade hemodinâmica, à bacteremia secundário à translocação bacteriana intestinal e inflamação sistêmica, ocorre as infecções bacterianas pulmonares secundárias, ou seja, ocorre a pneumonia bacteriana secundária (16).

Anúria (36).


Hematúria (10).


Oligúria:

A oligúria é uma resposta fisiológica normal dos animais devido à desidratação (35).

Fadiga muscular: 

A elevação da temperatura retal e da temperatura muscular devido ao exercício físico prolongado em cães está associada à redução dos níveis de fosfatos de alta energia (ATP e CrP) e ao aumento dos níveis musculares de lactato, piruvato e AMP, o que pode contribuir para a fadiga muscular (29).

Choque (2).


Desidratação: 

Em seres humanos, a desidratação do paciente é um fator predisposto a desenvolver intermação ou um precursor para o desenvolvimento da intermação (29). Em cães, a diminuição do volume plasmático aumenta o acúmulo do calor corporal (29).


Hipersalivação (33).


Mucosas hiperêmicas e/ou ictéricas (8, 25):

O paciente com intermação pode apresentar mucosas hiperêmicas devido à vasodilatação periférica promovida para ocorrer a dissipação de calor (35).


Mucosa gengival seca (25).


Tempo de preenchimento capilar diminuído ou ausente:

O tempo de preenchimento capilar pode estar diminuído ou ausente nos pacientes com intermação devido à vasodilatação periférica (12, 25).

Diagnóstico

  • Anamnese

    Normalmente o histórico do paciente envolve exercício físico recente ou confinamento em ambiente quente e com alta umidade, mas algumas vezes o histórico é incompleto e vago (2, 10, 12, 25). 

    Ocasionalmente, o responsável relata que o paciente teve um colapso durante uma atividade física ou uma brincadeira (10). 

    Em pacientes mantidos em locais abertos, estresse térmico importante, com acesso limitado a sombra e água fresca, o responsável pode somente relatar que encontrou o paciente desmaiado (10).

    Apesar do diagnóstico de intermação ser realizada através do histórico relatado pelo responsável, sintomas clínicos e resultados dos exames laboratoriais, a intermação nunca deve ser descartada ou excluída devido à ausência de um histórico de esforço físico ou exposição ao insulto térmico (10).

    Importante questionar o responsável quanto a presença de outras afecções e se o paciente é medicado com algum medicamento (24).

Exame físico

Durante a avaliação inicial do exame físico do paciente, importante utilizarmos o sistema ABC (airway, breath e circulation), ou seja, importante avaliarmos a patência das vias aéreas, se o paciente está expandindo o tórax durante a respiração e se o paciente apresenta batimento cardíaco (24-25).

A auscultação da cavidade torácica auxilia na identificação de arritmias, murmúrio e sons respiratórios (24).

Devemos realizar a avaliação dos pares de nervos cranianos, avaliação do estado mental, comportamento do paciente já na admissão (24).

Após estabilização do paciente, devemos avaliar a marcha, a reação postural e os reflexos da medula espinhal (24).

Importante avaliarmos se há evidência de obstrução de vias aéreas superiores ou inferiores, padrão respiratório e/ou se há estritor inspiratório (24).

A palpação abdominal auxilia na identificação de neoplasia intra-abdominal, organomegalia, ascite ou dor (24).

A pressão arterial sistêmica dos pacientes com intermação na admissão da maioria dos casos é de 127 mm/Hg de pressão arterial sistólica e de 74 mm/Hg de pressão arterial diastólica (6). 

Entretanto, há alguns casos de pacientes com intermação que apresentam pressão arterial sistólica com valor menor do que 100 mm/Hg e pressão arterial diastólica com valor menor do que 60 mm/Hg (6). 

A ausência de hipotensão arterial sistêmica no momento da apresentação implica que os cães estão com quadro de choque compensatório (10). 

A resposta neuronal compensatória da hipotensão arterial sistêmica é mais rápida do que a interrupção e recuperação dos parâmetros bioquímicos e por isso que a hipotensão arterial sistêmica na admissão do paciente com intermação é incomum (6, 10).

Os pacientes com intermação podem apresentar hipoxemia devido à hipoventilação decorrente de uma obstrução em vias aéreas superiores (inflamatório ou neoplásico), síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos, paralisia de laringe, obesidade, pneumonia aspirativa e/ou edema pulmonar secundário à síndrome da angústia respiratória aguda ou hemorragia intrapulmonar devido à coagulação intravascular disseminada (25).

Sempre associada:

A temperatura retal deve ser sempre interpretada em conjunto com o histórico do paciente e com os sintomas clínicos (4). 

A intermação não ocorre em todos os casos de hipertermia, pois há alguns pets que apresentam temperatura corporal de até 42,5º C após a realização de exercício físico em temperatura ambiental de 5,5 a 11,7º C que não desenvolveram qualquer sintoma clínico compatível com intermação e a temperatura corporal desses pets retornou ao normal em 10 a 20 minutos, indicando que os mecanismos de resfriamento foram apropriados para impedir a hipertermia prolongada (4, 13, 23). 


Temperatura média:

Na admissão, os pacientes com intermação podem estar com hipertermia, normotermia ou hipotermia. (25). 

A média da temperatura corporal na apresentação do paciente com intermação ao atendimento médico veterinário é de 39,1º C, mas a temperatura retal desses pacientes pode variar de 35,5 a 43,3º C (2). 


Hipotermia ou normotermia:

Os pacientes podem apresentar hipotermia ou normotermia na admissão devido à tentativa do responsável em resfriar o paciente em casa antes de levá-lo para atendimento médico veterinário ou estão em fase avançada do choque (4, 33).

Hemograma

Aumento do hematócrito: 

O aumento do hematócrito ocorre devido à hemodiluição secundária à contração esplênica, desidratação e quadro de choque compensado (10).


Diminuição do hematócrito:

Menos do que 10% dos casos de intermação, o paciente pode apresentar diminuição do hematócrito devido à vasculite, perda renal, perda gastrointestinal, anemia da doença crônica devido à alteração pré-existente e/ou hemólise (6, 12, 25, 35).

Normalmente a hemólise somente ocorre na primeira amostra de sangue coletada na admissão do paciente (6, 12, 25, 35).

Os pacientes com intermação podem apresentar aumento na concentração de hemoglobina (2).

Alguns pacientes com intermação podem apresentar policitemia (25).

Os pacientes com intermação podem apresentar leucocitose, que pode ser devido ao processo inflamatório agudo, resposta a infecção ou doença na medula óssea (9, 24).

Os pacientes com intermação podem apresentar leucopenia, que pode ser devido à sepse ou doença na medula óssea (24).

A leucopenia está associada à quadros mais severos de intermação (35).

Os pacientes com intermação podem apresentar neutropenia leve (16).

Durante doenças febris, a apoptose de neutrófilos pode ser desencadeada como um mecanismo de defesa para limitar a lesão colateral dos tecidos (28).

Definição:

O termo botrioides deriva da palavra grega “botris” que significa cacho de uvas e esse nome foi proposto porque os segmentos nucleares dos neutrófilos botrioides estão agrupados de uma forma que lembram uvas em um caule (28).

Os neutrófilos botrioides, também chamados de núcleos botrioides, são neutrófilos que apresentam aumento no número de segmentos nucleares dispostos radialmente com delicados filamentos de cromatina que se conectam a segmentos centralmente (28). 

(Foto: imagem demonstrando um neutrófilo botrioide [Fonte: Mastrorilli, 2013])


Etiologia:

Nos casos de intermação, a segmentação nuclear exagerada dos neutrófilos botrioides pode ser ocasionada pela alteração repentina do citoesqueleto das células que estavam em uma fase inicial de apoptose, antes que o DNA fosse decomposto da maneira organizada típica da apoptose (28).

A visualização dos neutrófilos botrioides auxilia no diagnostico de intermação, principalmente quando há baixa suspeita dessa afecção como nos casos de temperatura ambiente moderada ou quando a temperatura corporal está nos valores de referência, por exemplo (28). 

Os neutrófilos botrioides são frequentes em seres humanos com queimaduras e intermação, mas a presença de núcleos botrioides é indicativa de hipertermia severa e intermação nos pets (28).

 Os neutrófilos botrioides já foram visualizados também em casos de cães que estão sendo tratados com quimioterapia que apresentam hipertermia (28).


Hipersegmentados x neutrófilos botrioides:

Algumas vezes os neutrófilos botrioides são descritos simplesmente como “hipersegmentados” ou “atipicamente hipersegmentados com aparência de cata-vento”, sendo que a hipersegmentação é o resultado do envelhecimento rápido celular ou da lesão térmica (28). Entretanto, a hipersegmentação tipicamente observada em neutrófilos envelhecidos é caracterizada pela condensação da cromatina e pelo arranjo linear dos segmentos nucleares, enquanto nos núcleos botrioides apresenta uma falta de condensação da cromatina e os segmentos nucleares têm uma distribuição radial característica (28).

A trombocitopenia está presente em 83% dos pacientes com intermação (24). 

A trombocitopenia está relacionada à lesão direta aos megacariócitos e às plaquetas, vasculite, sangramento gastrointestinal, agregação plaquetária induzida pelo calor e ativação da coagulação ocasionada pela coagulação intravascular disseminada (5, 24, 28, 33). 

A trombocitopenia é um achado comum já na admissão ou após 24 horas da admissão dos pacientes com intermação (5). 

A trombocitopenia ocorre devido ao aumento do consumo das plaquetas devido à vasculite, sangramento gastrointestinal e à agregação plaquetária induzida pela hipertermia (5). 

A trombocitopenia se agrava com a progressão da afecção devido ao contínuo consumo, diminuição da liberação e produção de plaquetas pela medula óssea e devido à maior susceptibilidade dos megacariócitos a altas temperaturas (5).

A hipertermia induz a agregação plaquetária (5). 

Estudos in vitro demonstraram que temperaturas superiores a 42º C ocasionam em agregação plaquetária irreversível mesmo após o resfriamento corporal (5).

Sinônimos:

Os precursores eritróides contendo núcleos são frequentemente chamados de células vermelhas nucleadas ou de eritrócitos nucleados (15). 


Casuística:

A presença de células vermelhas nucleadas no sangue periférico, também chamado de rubricitose, é a alteração hematológica mais comum nos pacientes com intermação e está presente em 58 a 68% dos casos, independetemente da classificação da intermação (2, 12, 15, 25).


Etiologia:

A lesão direta e indireta da hipertermia na medula óssea, a ação das citocinas produzidas durante a síndrome da resposta inflamatória sistêmica na medula óssea e a contração esplênica devido à má perfusão visceral resultam na liberação prematura das células vermelhas na circulação sanguínea, ou seja, na liberação de células vermelhas nucleadas (2, 8, 25, 28, 33).

A progressão rápida e aguda da intermação exclui a possibilidade da presença das células vermelhas nucleadas ser uma reação da medula óssea com aumento da eritropoiese e acredita-se que a presença de células vermelhas nucleadas nos casos de intermação seja por contração esplênica, principalmente pelo fato da quantidade de células vermelhas nucleadas diminuírem após 12 a 24 horas do início do tratamento da intermação (2, 28).


Auxílío no diagnóstico:

A presença de células vermelhas nucleadas em sangue periférico associadas com elevação na concentração sérica de creatina quinase é um bom indício para diagnosticar a intermação nos casos em que o histórico é vago ou quando o paciente está com hipotermia ou normotermia na admissão (10).

A presença de petéquias com trombocitopenia leve e presença de células vermelhas nucleadas é sugestiva de intermação com ativação da cascata de coagulação com consequente falência múltipla dos órgãos, independentemente da rapidez e eficácia com que o paciente foi resfriado (28).  


Características na intermação:

Nos casos de intermação, a maioria das células vermelhas nucleadas são metarrubrícitos, a minoria das células vermelhas nucleadas são rubrícitos e não há anemia, não há hiperplasia eritróide e não há precursores eritróides (2, 10).


Prognóstico:

A presença de células vermelhas nucleadas na admissão dos pacientes com intermação provavelmente representa a gravidade da lesão térmica na medula óssea e outros órgãos com subsequente desenvolvimento de complicações como coagulação intravascular disseminada, doença renal aguda e óbito (2). Quanto maior a quantidade de células vermelhas nucleadas na admissão ao atendimento médico veterinário, maior a probabilidade de o paciente com intermação desenvolver complicações secundárias (2).  

Os pacientes com intermação que desenvolvem coagulação intravascular disseminada e/ou doença renal aguda apresentam maior quantidade de células vermelhas nucleadas quando comparado com os pacientes com intermação que não desenvolvem coagulação intravascular disseminada e/ou doença renal aguda (2). 


(Imagem demonstrando um metarrubrícito ([Mastrorilli, 2013]}

A presença de esquizócitos auxilia no diagnóstico de coagulação intravascular disseminada (24). 

Hiperproteinemia (16).


Hipoproteinemia: 

Os pacientes com intermação podem apresentar perda de proteína total devido à vasculite, lesão em trato gastrointestinal e lesão renal (35).

Exames bioquímicos

Introdução:

As alterações eletrolíticas do paciente com intermação variam dependendo da volemia, intensidade da lesão muscular, lesão renal e se há vômito e/ou diarreia (35).


Sódio sérico: 

Os pacientes com intermação podem apresentar hipernatremia que pode ser ocasionada por desidratação, déficit de água livre secundário aos exercícios físicos com restrição hídrica e à exposição ao calor (16, 24). 

Há casos de pacientes com intermação que apresentam hiponatremia, que é ocasionada pelo aumento da perda de fluido hipertônico como vômito e/ou diarreia (24).


Potássio sérico:

Os pacientes com intermação podem apresentar hipercalemia devido à morte celular, principalmente quando houver rabdomiólise (24).


Hipofosfatemia e hipocalcemia:

Há alguns pacientes com intermação que apresentam hipofosfatemia e/ou hipocalcemia, mas o mecanismo dessas alterações é desconhecido (24).

Alanina aminotransferase (ALT): 

A intermação ocasiona em lesão hepatocelular e ocasiona na elevação sérica de alanina aminotransferase (5, 25).


Bilirrubina total: 

Os pacientes com intermação podem apresentar elevação na bilirrubina total (25).


Fosfatase alcalina, aspartato aminotransferase (AST) e gama-glutamiltranspeptidase (GGT):

Os pacientes com intermação podem apresentar elevação na fosfatase alcalina, aspartato aminotransferase e gama-glutamiltranspeptidase sérica (10). 

A elevação da fosfatase alcalina sérica pode indicar lesão tecidual (29).

Nitrogênio ureico (BUN):

Os pacientes com intermação podem apresentar elevação no nitrogênio ureico (25).


Ureia e creatinina:

As elevações na ureia e creatinina sérica, que ocorre devido à lesão renal, estão presentes em 50% dos pacientes com intermação e estão relacionadas à azotemia pré-renal e renal (2, 12, 35). 

A azotemia pré-renal ocorre devido à desidratação enquanto a azotemia renal ocorre devido à citotoxicidade direta e/ou isquemia (24).

A elevação na concentração na creatinina sérica ocorre devido à lesão glomerular e lesão tubular renal (10). 


Creatinina sérica normalizada:

Entretanto, há casos em que a concentração na creatinina sérica está normalizada ou discretamente alterada na admissão do paciente, principalmente quando o responsável leva o paciente para atendimento médico veterinário rapidamente, mas a normalização da concentração de creatinina sérica na admissão não reflete a severidade da lesão renal e esses pacientes sempre apresentam alteração renal em exame histopatológico (8, 10, 37). 

A concentração de creatinina sérica é um marcador insensível para o diagnóstico de doença renal aguda e não reflete a lesão renal nos estágios iniciais (36).


Células vermelhas nucleadas x creatinina sérica:

A presença de células vermelhas nucleadas sem elevação na concentração de creatinina sérica pode indicar a presença de doença renal aguda (2).

A creatina quinase sérica, que é uma enzima musular, pode estar elevada nos pacientes com intermação (6, 10).

A gravidade deste aumento reflete a extensão da lesão das células musculares e a lesão térmica direta aos miócitos do miocárdio e do músculo esquelético (6, 10).

Há elevação no cortisol sérico em todos os casos de intermação (3). 

O cortisol sérico continua se elevando mesmo após o início do tratamento, do resfriamento e da normalização da temperatura corporal do paciente que desenvolveu intermação (3). 

O cortisol sérico se normaliza após 24 horas do desenvolvimento da intermação (3). 

Qualquer situação estressante ao organismo está associada à elevação dos hormônios glicocorticoides no plasma sanguíneo (3). 

Alguns estudos científicos relatam que alta temperatura ambiental está associada à elevação sérica dos corticosteroides antes mesmo de ocorrer a elevação na temperatura corporal (3). Entretanto, há outros estudos científicos que relatam que o corticosteroide sérico se eleva simultaneamente com a elevação da temperatura corporal e outros estudos científicos relatando que o corticosteroide sérico somente se eleva após a elevação da temperatura corporal (3).

A glicemia do paciente com intermação deve ser mensurada logo que o paciente chegar ao atendimento médico veterinário (25).

A glicemia dos pacientes com intermação pode estar diminuída, normal ou aumentada (6, 35).

A mensuração das histonas séricas fornecem informações importantes quanto ao diagnóstico e até ao prognóstico dos pacientes que desenvolvem intermação, pois a concentração das histonas séricas se correlaciona bem com a gravidade da intermação e outros parâmetros de falência orgânica, além de contribuir com a lesão celular, com a inflamação e com a ativação da coagulação (9). 

A mensuração das histonas séricas é realizada através de ELISA, sendo que a ELISA consegue mensurar os 5 tipos diferentes de histonas. 

A especificidade da ELISA é de 89% e a sensibilidade da ELISA é de 60% (9). 

Os pacientes com intermação apresentam elevação na concentração sérica de histonas. A elevação na concentração de histonas sérica não está correlacionada com a leucocitose, mas está relacionada com a elevação da creatina quinase (9). 

Há pacientes com intermação que apresentam diminuição na concentração de histonas séricas e isso pode ocorrer devido à menor liberação de histonas pelos macrófagos ou pela maior clivagem enzimática por protease no plasma sanguíneo (9).

O lactato sérico é mensurado para avaliar o grau da hipoperfusão tecidual e guiar no tratamento da fluidoterapia (35). 

Caso outras causas de aumento no lactato sérico forem descartadas como convulsões, alguns medicamentos e neoplasia, por exemplo, o valor de lactato sérico maior do que 5 mmol/L indica hipoperfusão tecidual importante (35).

A diminuição da proteína C pode estar associada ao consumo de anticoagulante ocasionada pela coagulação intravascular disseminada (5, 25).

Correlação:

As proteínas do choque térmico apresentam correlação com a hipóxia, inflamação, coagulação (6). 


Na intermação:

A elevação na concentração sérica de proteínas do choque térmico nos casos de intermação ocorre devido à resposta do organismo ao estresse térmico corporal e à lesão térmica direta nos eritrócitos e lesão celular com consequente coagulação intravascular disseminada (6). 


Biomarcador precoce:

A mensuração da proteína do choque térmica também é realizada como um biomarcador precoce da doença renal aguda de diferentes etiologias (10).


Meia-vida:

A meia-vida das proteínas do choque térmico é de 18 horas (6).  


Aclimatização:

A concentração de proteína do choque térmico é maior nos cães que foram aclimatizados quando comparado com cães que não foram aclimatizados (6). 

Os cães que foram aclimatizados apresentam maior concentração de proteínas do choque térmico pós-exercício físico (6).


Método de mensuração:

É possível detectar e mensurar os níveis de proteína do choque térmico nos linfócitos e no mRNA dos linfócitos (6). 

Não há consenso sobre a concentração basal das proteínas do choque térmico em cães devido às diferentes metodologias de mensuração, variação entre as espécies, diferentes fases de aclimatização, diversos níveis de exposição ao calor e/ou devido ao tempo prévio da atividade física (6).

A troponina I é um biomarcador de lesão miocárdica e a concentração sérica pode predizer a gravidade da intermação (8, 10). 

Os pacientes com intermação podem apresentar elevação na concentração de troponina I devido à lesão miocárdica (8).

Hemogasometria

Os pacientes com intermação podem apresentar acidose metabólica com alcalose metabólica compensatória (24). 

A acidose metabólica pode ser devido à hipóxia global que ocasiona em produção de ácido lático pelo metabolismo anaeróbico ou pelos ácidos urêmicos em pacientes com alteração na função renal (24).

Há pacientes com intermação que apresentam alteração acidobásica mista (35).

Os pacientes com intermação podem apresentar diminuição do bicarbonato sérico (9).

Os pacientes com intermação podem apresentar diminuição da PCO2, ou seja, podem apresentar hipocapnia devido à alcalose respiratória (38).


Alterações hemostáticas

As alterações hemostáticas são comuns nos cães que desenvolvem intermação (5).

A avaliação hemostática do paciente com intermação podem estar normalizada ou estar discretamente alterada logo em que ocorre o insulto térmico ou na admissão do paciente, mas os distúrbios hemostáticos graves podem ocorrer posteriormente (5).

Prolongamento do tempo de protrombina (TP) e no tempo de tromboplastina parcial ativa (TTPa): 

O prolongamento no tempo de protrombina e no tempo de tromboplastina parcial ativada ocorrem devido à ativação da coagulação ocasionada pela coagulação intravascular disseminada (2, 5). 

Tanto o prolongamento no tempo de protrombina quanto do tempo de tromboplastina parcial ativada são achados comuns já na admissão dos casos de intermação (5).


Concentração de dímero D: 

A elevação da concentração de dímero D é ocasionada pelo aumento da fibrinólise e está relacionada à coagulação intravascular disseminada (5). 


Concentração da degradação dos produtos do fibrinogênio: 

A elevação da concentração da degradação dos produtos do fibrinogênio é ocasionada pelo aumento da fibrinólise e está relacionada à coagulação intravascular disseminada (5).

Atividade da proteína C (PCA), proteína S (PSA) e antitrombina (ATA):

A diminuição da atividade dessas substâncias está relacionada ao consumo de anticoagulantes e está relacionada à coagulação intravascular disseminada (5).


Concentração de alfa-2 antiplasmina: 

A diminuição da concentração de alfa-2 antiplasmina está relacionada ao aumento da fibrinólise secundária à coagulação intravascular disseminada (5).


Hipofibrinogenemia: 

A hipofibrinogenemia está relacionada ao aumento da fibrinólise e está relacionada à coagulação intravascular disseminada tardia (5). 

Há um estudo científico relatando que somente 29% dos pacientes com intermação apresentavam hipofibrinogenemia na admissão, mas a incidência aumenta tanto devido ao desencadeamento da intermação quanto da lesão hepática (5).

Na fase inicial da coagulação intravascular disseminada, há a elevação da produção de fibrinogênio devido à reação da fase aguda, mas posteriormente há maior fibrinólise e há diminuição da produção de fibrinogênio. 

A diminuição do fibrinogênio somente ocorre relativamente tarde durante a progressão da coagulação intravascular disseminada (5). 

O fibrinogênio não é um marcador precoce de coagulação intravascular disseminada e a sua concentração não deve ser utilizada para guiar o tratamento da intermação em cães (5).

Urinálise (urina 1)

Utilização:

Como a doença renal aguda ocorre nos pacientes com intermação e pode ser inicialmente uma complicação subclínica, é necessário realizar a mensuração de alguns biomarcadores urinários para avaliar precocemente lesão glomerular e/ou lesão tubular renal (12). 


Elevação:

Há um estudo científico relatando que os biomarcadores renais estão elevadas nos pacientes que apresentam intermação, sendo que a elevação ocorre mesmo quando não há elevação na concentração sérica de creatinina (10, 36).


Quais são os biomarcadores?:

Lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos urinários: 

A lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos urinários é uma proteína de 25 kD originalmente descoberta em neutrófilos e que forma um complexo heterodimérico covalente com gelatinase) (10, 36).

A lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos urinários está elevada nos casos de lesão tubular renal (36).


Proteína de ligação ao retinol urinário:

A proteína de ligação ao retinol urinário é uma proteína de baixo peso molecular e que é totalmente reabsorvida pelos túbulos renais (10, 36).

A proteína de ligação ao retinol urinário avalia a função tubular renal (36).


Proteína C-reativa urinária: 

A proteína C-reativa urinária é uma proteína de alto peso molecular que normalmente não é filtrada pelos glomérulos renais.


Razão lipocalina/creatinina associada à gelatinase de neutrófilos urinário:

Os pacientes com intermação apresentam elevação na mensuração da razão lipocalina/creatinina associada à gelatinase de neutrófilos na urina, indicando que esses pacientes apresentam lesão renal logo na admissão mesmo quando a concentração de creatinina sérica está dentro dos valores de referência (36).

A presença de isostenúria na admissão do paciente com intermação indica uma lesão renal pré-existente ou lesão renal secundária (24).

Os pacientes com intermação podem apresentar hematúria (35).

A mioglobinúria pode ocasionalmente ser evidenciada nos pacientes com intermação e essa alteração é sugestiva de rabdomiólise (12, 24, 29). 

A mioglobina, que foi liberada devido à lesão da fibra muscular, é nefrotóxica (29). 

Em seres humanos, a mioglobinúria está associada à maior chance de ocorrer doença renal aguda e, consequentemente, à maior mortalidade (29).

Os pacientes com intermação podem apresentar proteinúria leve (12).

Os pacientes com intermação podem apresentar elevação da razão creatinina/proteína urinária devido à lesão glomerular (6).

Os pacientes com intermação podem apresentar sedimentos urinários (6).

Exames de imagem

Importante realizar o eletrocardiograma para avaliar a presença e a frequência das arritmias cardíacas nos pacientes com intermação (25). 

Há um estudo científico relatando que aproximadamente 25% dos pacientes com intermação apresentam arritmias confirmadas (24). 

Os pacientes com intermação podem desenvolver arritmias ventriculares como a contração ventricular prematura, por exemplo (30).

A radiografia torácica auxilia no diagnóstico de infiltrado pulmonar secundário ao edema, síndrome da angústia respiratória aguda, pneumonia ou hemorragia pulmonar (35).

A radiografia torácica deve ser realizada em pacientes que apresentam qualquer alteração cardiopulmonar como alteração na ausculta pulmonar, alteração no padrão respiratório, constante hipoxemia, murmúrios cardíacos ou arritmias cardíacas, por exemplo (24).

Exame histopatológico

Os pacientes que desenvolvem intermação podem apresentar alterações histopatológicas de coagulação intravascular disseminada mesmo o paciente não apresentando alterações compatíveis com essa complicação ante mortem (16). 

As alterações compatíveis com coagulação intravascular disseminada são sangramento severo, lesão endotelial, infiltração neutrofílica, apoptose celular generalizada, microtrombos difuso e diátese hemorrágica difusa (5, 8, 10). 

Os pacientes que desenvolveram intermação podem apresentar sangramento pulmonar, miocárdico, renal e em sistema nervoso central (8).

As alterações em trato cardiovascular de um paciente com intermação são hemorragia subendocárdica, miocárdica e epicárdica leve a grave, que podem ser multifocais ou coalescentes. 

Pode ter hemorragia pericárdica também (8, 33). 

As lesões miocárdicas ocorrem devido à diminuição da perfusão tecidual, acidose, desequilíbrio eletrolítico e aumento da pressão venosa e edema pulmonar (12). 

A necrose miocárdica e a hemorragia petequial são comuns ao exame histopatológico dos pacientes que não sobreviveram à intermação (12).

Intestino:

Congestão em intestino delgado e grosso (33).


Hemorragia: 

O paciente com intermação pode apresentar hemorragia grave em todas as camadas intestinais, que resulta nos sintomas clínicos de hematêmese, melena ou diarreia hemorrágica ou gelatinosa (33).


Necrose:

Pode haver necrose moderada a severa da mucosa epitelial intestinal (8).


Fígado:

Hepatomegalia (8).


Congestão aguda e severa (8).


Necrose hepática:

A compressão dos hepatócitos ocasionada pela dilatação dos sinusóides resulta em necrose parenquimatosa hepática leve a moderada, principalmente em área centrolobular (8, 33).


Pâncreas: 

Necrose periacinar (8).

Moderada hiperemia, edema e hemorragia (8, 33).

Pulmão: 

Os pacientes com intermação podem apresentar hiperemia intersticial difusa leve a grave, edema alveolar difuso, hemorragias múltiplas difusas moderadas a graves pulmonar ao exame histopatológico (8). 

O aumento da permeabilidade vascular e a coagulação intravascular disseminada são as principais causas do edema, hemorragia e hiperemia pulmonar (8). 

Os pacientes com intermação que desenvolvem coagulação intravascular disseminada podem apresentar tromboembolismo pulmonar (16). 

O infarto pulmonar raramente é observado nos pacientes com intermação (33).


Traqueia e brônquios: 

Os pacientes com intermação podem apresentar grande quantidade de exsudato espumoso e/ou hemorrágico ao exame histopatológico da traqueia e brônquios (8, 33).

Rins:

Congestão glomerular e intersticial moderada a grave (8).


Hemorragia subcapsular renal (8).

Infarto renal (33).


Edema renal leve a grave (8).


Necrose em túbulos contorcidos proximais e distais (8).


Vesícula urinária:

Hemorragia na mucosa da vesícula urinária (8).

Congestão (12).


Hemorragia e microhemorragia cerebral (10).


Hiperemia e edema moderada a severa em parênquima de meninges, cérebro e cerebelo (8, 33).


Necrose neuronal leve a moderada em cerebelo, córtex frontal e hipocampo cerebral (8, 12): 

As células de Purkinje do cerebelo são consideradas muito susceptíveis à hipertermia e normalmente o cerebelo está degenerado e essas células podem apresentar citoplasma hipercromático, perda da definição nuclear e citólise nos pacientes com intermação (33).

Os pacientes com intermação podem apresentar congestão esplênica ao exame histopatológico (28).

Na pele e na gengiva dos pacientes com intermação, podemos notar a presença de petéquias e equimoses multifocais, além de apresentar hiperemia e edema moderada a severa (33).

Os pacientes com intermação que desenvolvem coagulação intravascular disseminada podem apresentar tromboembolismo na musculatura (16).

Os pacientes que apresentaram hipertermia podem apresentar miofibras edemaciadas com sarcoplasma hipereosinofílico no músculo esquelético (33).

Os pacientes com intermação que vão à óbito apresentam aceleração do rigor mortis devido à necrose da musculatura estriada esquelética (39).

Efusão peritoneal ou pleural hemorrágica difusa e severa (8).

Diagnósticos diferenciais

  • Afecções que causam febre

    Importante diferenciarmos intermação das afecções que causam febre como infecções virais ou bacterianas, afecções imunomediadas e neoplasia (35).

    Como a febre nesses pacientes ocorre devido a uma alteração no centro termorregulador do hipotálamo, esses os pacientes com febre costumam apresentar comportamentos que tendem a aumentar a temperatura corporal como tremores, por exemplo (35). 

    Entretanto, esses pacientes normalmente não apresentam histórico de exposição ao calor ou de excesso de exercício físico, não apresentam sintomas de aumentar a dissipação de calor como taquipneia e hipersalivação, por exemplo, enquanto os pacientes com intermação estão fracos, com ataxia e não conseguem ou se relutam a se levantar (35).

  • Hipertermia maligna

    A hipertermia maligna é uma afecção familial caraterizada por rigidez muscular e hiperpirexia (1). 

    A hipertermia maligna ocorre em resposta a vários agentes anestésicos (1). 

    Na hipertermia maligna, a hiperpirexia é ocasionada por um estado hipermetabólico do músculo esquelético com consequente aumento da produção de calor corporal (1). 

    Os pacientes com maior predisposição a desenvolver hipertermia maligna estão mais susceptíveis ao desenvolvimento da intermação (1).

Tratamento

  • Introdução

    Apesar de não ter nenhum tratamento específico para interromper ou para diminuir a inflamação sistêmica e o desequilíbrio hemostático dos cães com intermação, a rápida e agressiva intervenção terapêutica e o monitoramento do paciente são necessários para evitar complicações secundárias graves (9, 12). 

    Caso não identificarmos e iniciarmos o tratamento rapidamente, a intermação progride para risco de óbito (35).

  • Sedação

    Acepromazina: 

    A acepromazina é efetiva em reduzir o estresse e promover tranquilidade ao paciente, além de poder ser utilizada de forma isolada ou combinada com os alfa-2 agonistas (12). 

    A dose da acepromazina utilizada é de 0,02 mg/kg (12).


    Butorfanol:

    O butorfanol é um opioide com bom efeito sedativo e pode ser utilizado de forma isolada ou combinada com outros sedativos (12). 

    A dose utilizada de butorfanol é de 0,2 a 0,4 mg/kg (12).


    Propofol: 

    O propofol é utilizado nos pacientes que precisam ser intubados (12).

  • Oxigênioterapia

    Devido ao aumento da temperatura corporal, há o aumento da frequência cardíaca e aumento da demanda de oxigênio (12). 

    A oxigênioterapia deve ser utilizada em pacientes que apresentam qualquer alteração pulmonar e pode ser realizada com máscaras, sondas, incubadoras ou intubação endotraqueal (12, 24-25). 

    Os pacientes comatosos e os braquicefálicos devem ser intubados imediatamente para suplementação de oxigênio com ventilação mecânica até que o paciente volte a respirar espontaneamente (12). 

    Caso o paciente apresentar apneia, respiração agônica ou estiver em estado comatoso, é indicado realizar o procedimento de intubação endotraqueal imediatamente e a ventilação com pressão positiva deve ser realizada até que o paciente volte a respirar espontaneamente e adequadamente (24).

Rápido resfriamento

O primeiro tratamento da intermação é reduzir a temperatura corporal o mais rapidamente possível para prevenir a excessiva ativação da coagulação sistêmica e que idealmente deve ser realizada em até 30 minutos após o paciente ter dado entrada ao serviço médico veterinário (1, 4-5, 35).

O benefício do rápido resfriamento corporal foi demonstrado tanto em seres humanos como cães e cavalos (1, 4).

Há evidências em seres humanos que o resfriamento corporal realizado muito lentamente aumenta a gravidade da intermação (4).

A temperatura corporal máxima atingida e a duração da elevação da temperatura corporal estão relacionadas diretamente com o grau da intermação e por isso que o rápido resfriamento deve ser realizado (4, 40).

Iniciar processo de resfriamento: 

Caso o responsável entrar em contato por telefone e relatar o histórico e alguns sintomas compatíveis com intermação, orientar o responsável a realizar o resfriamento do paciente em casa antes de transportar o paciente para o atendimento médico veterinário (4, 11). 

Os pacientes que são resfriados em casa pelo responsável apresentam mortalidade de 19% e por isso devemos orientar o responsável a “resfriar primeiro, transportar em segundo” (11, 27). 

Alguns estudos científicos relatam que devemos orientar o responsável a não resfriar o paciente com água gelada ou gelo e sim utilizar água em temperatura ambiente para resfriar o paciente, pois a água gelada e o gelo (12, 25). Entretanto, alguns outros estudos científicos relatam que é recomendado utilizar água gelada para resfriar o paciente com sintomas de intermação (27). 

Alguns estudos científicos relatam que podemos orientar o responsável a submergir o paciente jovem que está consciente e relativamente saudável em água ambiente, poupando a cabeça, mas não recomendam submergir o paciente que apresenta alteração no nível de consciência em água devido ao risco de afogamento do paciente alteração no nível de consciência (19-20).


Interromper processo: 

Importante retirar o paciente da fonte de calor como do interior do automóvel, por exemplo, e/ou interromper o processo incitante como o exercício físico, por exemplo (4).


Colocar paciente em ambiente fresco, com baixa umidade, com sombra, ventilado ou com ar-condicionado e retirar qualquer roupa que o paciente esteja utilizando (4, 19): 

Os pacientes podem se resfriar no momento em que são retirados ou suspensos os processos incitantes (4, 19).


Trazer o pet para atendimento médico veterinário o mais rapidamente possível: 

Há um estudo científico relatando que os cães que chegaram ao atendimento médico veterinário após 90 minutos do colapso tinham maior probabilidade de desenvolver coagulopatia intravascular disseminada e a demora em levar o paciente ao atendimento médico veterinário está associada a uma maior taxa de mortalidade (20).


Continuar ventilando o paciente no caminho ao serviço médico veterinário: 

A ventilação do paciente pode continuar durante o caminho até o atendimento médico veterinário através do ar-condicionado ou abrindo as janelas do veículo (19).

Pulverizar água em temperatura ambiente e colocar paciente em frente a um ventilador: 

O resfriamento do paciente através da pulverização de água em temperatura ambiente e colocar o paciente em frente a um ventilador devem ser realizados o mais rapidamente possível (11). 

Realizar esse método de resfriamento utiliza dissipação do calor por convecção, condução e evaporação (11, 25). 

A velocidade do vento influencia no resfriamento corporal (23). 

Esse método é o tratamento mais eficiente e eficaz para a hipertermia grave (4). 

Importante pulverizar água em temperatura ambiente por todo o corpo do paciente, principalmente sobre os grandes vasos sanguíneos do pescoço, no abdômen ventral e na parte interna da coxa (20). 

Cautela para não ensopar o paciente com pelo denso, pois o pelo molhado pode atuar como barreira de isolamento e limita a dissipação de calor (24).


Banheira com água e gelo: 

Não é recomendado colocar o paciente em uma banheira com água e gelo devido à inibição da dissipação do calor por radiação, pois esse método ocasiona em intensa vasoconstrição periférica, há o deslocamento do fluxo sanguíneo da periferia para o centro do organismo, diminui o resfriamento corporal, ocorre o espessamento do sangue e pode promover a coagulação intravascular disseminada (12, 25, 35). 

Entretanto, há um estudo científico relatando que o mais efetivo para resfriar o paciente com hipertermia grave é utilizando água fria e que isso já foi evidenciado em seres humanos e na medicina esportiva dos equinos (4). 

O contato da pele com o gelo, além de ser extremamente desconfortável para o paciente, também pode ocasionar em tremores musculares e que, consequentemente, aumentam a produção de calor (12, 20, 25).

Caso o paciente começar a apresentar tremores musculares, recomenda-se esfregar vigorosamente ou aquecer levemente o paciente até que os tremores parem (19).

O paciente submerso em água, com ou sem gelo, também impede o adequado monitoramento médico veterinário (25). 

Entretanto, há alguns estudos científicos relatando que colocar o paciente em uma banheira com água fria pode ser realizada em pacientes jovens e saudáveis, além de poder utilizar bolsas de gelo nas regiões do pescoço e da cabeça devido ao controle da temperatura cerebral poder ser controlada através do fluxo sanguíneo cerebral (4, 12).


Toalhas molhadas: 

Podemos aplicar toalhas molhadas em áreas do corpo com pouca ou nenhuma pelagem, mas não é recomendado aplicar toalhas molhadas em áreas do corpo com bastante pelagem porque a toalha, mesmo molhada, pode atuar como isolante térmico e evita a perda de calor corporal (12). 

Há um estudo científico relatando que podemos utilizar as toalhas molhadas nos pacientes que apresentam pelagem mais grossa, pois a pelagem grossa pode reter a água na pele e atua como isolamento (20). 

Melhor utilizar as toalhas molhadas do que não realizar nenhum método de resfriamento, mas há outros métodos de resfriamento mais eficazes (4).


Pulverização de álcool tópica: 

Não é recomendada a utilização de pulverização de álcool tópica por todo o corpo do paciente com intermação para resfriar devido à possibilidade de intoxicação (11-12). Apesar da efetividade não ter sido investigada, podemos pulverizar álcool tópico sobre os coxins, axila e virilha do paciente (12, 35).


Jaquetas de resfriamento: 

Foi demonstrado que a utilização de jaquetas de resfriamento de um tipo específico é eficaz na diminuição da duração da hipertermia pós-exercício em cães militares (29). 

O uso pré-competição de jaquetas de gelo tem sido eficaz na redução do grau de aquecimento corporal em seres humanos atletas, mas o uso pós-exercício de jaquetas de gelo não é vantajoso em seres humanos atletas hipertérmicos (29).

Lavagem gástrica com água fria ou gelo: Antigamente a lavagem gástrica com água fria ou gelo era utilizada e era eficaz no tratamento da intermação em seres humanos (40). 

Há um estudo científico relatando que os animais submetidos a lavagem gástrica com água fria ou gelo apresentaram resfriamento corporal de 5 a 6 vezes mais rápido do que os animais que não passaram por esse procedimento, além de ser um método seguro e efetivo para o resfriamento dos cães com intermação (40). 

Entretanto, há outro estudo científico relatando que as técnicas evaporativas são mais rápidas em resfriar os animais com intermação do que a lavagem gástrica com água fria ou gelo (41). 

Não é recomendada a utilização da lavagem gástrica com água fria ou gelo para resfriar o paciente devido à possibilidade de aspiração, pneumonia, lesão na mucosa gástrica, aumenta a permeabilidade intestinal, alterações eletrolíticas e arritmias (11, 12, 24, 25, 40).


Lavagem peritoneal com fluidos frios: 

Antigamente utilizava-se a lavagem peritoneal com fluidos frios para restaurar a temperatura corporal em pacientes com intermação que foram anestesiados por ser um dos métodos de resfriamento mais rápidos (40-41). 

Entretanto, a lavagem peritoneal com fluidos frios é um procedimento complicado, invasivo, demorado, não muito prático, o fluido deve ser previamente resfriado e ficar com 6º C, pode ocasionar em peritonite e não é mais efetivo em diminuir a temperatura corporal do que a utilização da pulverização com água ambiente e colocar o paciente em frente a um ventilador (20, 25, 41).


Enemas com água fria:

Não é recomendada a realização de enema com água fria devido ao aumento da permeabilidade intestinal e interferir nas mensurações da temperatura retal posteriormente (12, 25, 35).


Oferecer água:

Caso o paciente não apresentar alteração no nível de consciência e for capaz de deglutir, importante oferecer água para o paciente ingerir e estimular que esse paciente descanse (19).

Fluidoterapia

A maioria dos pacientes com intermação apresentam hemoconcentração, hipovolemia e azotemia pré-renal e por isso que a fluidoterapia deve ser iniciada imediatamente para melhorar a perfusão tecidual periférica e visceral (12, 24, 25, 34). 

A fluidoterapia deve ser realizada mesmo quando a concentração de creatinina sérica estiver dentro da normalidade, pois a fluidoterapia auxilia na dissipação de calor corporal através da melhora da vasodilatação periférica e melhora da perfusão visceral, além de o fluido intravenoso também conseguir resfriar o organismo do paciente (24, 35-36). 

As taxa, o tipo e a quantidade de fluido administrada devem ser avaliados de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, mas o volume total de fluido perdido pelos pacientes com intermação deve ser reposto nas primeiras 24 horas (12, 25). 

A taxa do fluido utilizada deve ser baseada no reestabelecimento da estabilidade cardiovascular e do equilíbrio eletrolítico, com reavaliação contínua dos parâmetros circulatórios e de perfusão tecidual como frequência cardíaca, qualidade do pulso, tempo de preenchimento capilar, cor da mucosa e da pressão arterial sistêmica (12).

Quais utilizar?:

Os cristaloides em temperatura ambiente que podemos utilizar são o Ringer com lactato, Plasmalyte 148 ou o Normosol-R e devem ser utilizados inicialmente em pacientes que apresentam hipotensão arterial sistêmica e hipoperfusão tecidual (12).


Objetivo:

Os cristaloides em temperatura ambiente auxiliam no resfriamento do organismo e melhora a expansão do volume plasmático (25).

A expansão do volume melhora o fluxo sanguíneo e, consequentemente, melhora a dissipação periférica do calor através da radiação (25). 


Efeitos colaterais:

A taxa de cristaloide de 90 ml/kg/hora em cães e de 60 ml/kg/hora em gatos é contraindicada devido à possibilidade do paciente desenvolver hipoxemia, edema pulmonar, edema cerebral e arritmias cardíacas (12). 

O excesso de fluido cristaloide pode ocasionar em coagulopatia dilucional e piorar a pressão osmótica dos pacientes que apresentam hipoalbuminemia (24).

Os coloides podem ser necessários para realizar a expansão plasmática e manter o volume intravascular, principalmente em pacientes com hipovolemia, hipoproteinemia e/ou hipoalbuminemia com hipotensão arterial sistêmica que são refratários à administração de grande quantidade de fluido cristaloide (11, 24, 25). 

A utilização de coloides diminui o risco do paciente desenvolver edema pulmonar ou edema periférico (35).

  • Antibióticos

    Indicação:

    Apesar de nunca ter sido comprovada a translocação bacteriana nos pacientes com intermação, importante iniciar tratamento com antibiótico de amplo espectro (que seja efetivo contra bactérias gram-negativas, bactérias gram-positivas e bactérias anaeróbicas) devido à possibilidade de translocação bacteriana e devido aos quadros hemorrágicos intestinais, à melena, à hematoquezia e/ou anorexia prolongada (10-12, 24). 

    A antibióticoterapia deve ser utilizada até a estabilização cardiovascular, manutenção da perfusão tecidual, voltar a se alimentar espontaneamente e após cessar os sintomas gastrointestinais (12, 24). 


    Controversa:

    Há um estudo científico relatando que a utilização de antibióticos no tratamento da intermação é controversa, pois os antibióticos podem ocasionar em resistência bacteriana e ocasionar em alterações da microbiota intestinal, mas que há indicação de utilização em casos de hipoperfusão intestinal, imunossupressão e/ou disfunção hepática (12).


    Antibióticos:

    Ampicilina:

    A dose de ampicilina utilizada é de 20 a 22 mg/kg, TID, pela via intravenosa (24).


    Enrofloxacina:

    A dose de enrofloxacina utilizada é de 10 a 15 mg/kg, SID, pela via intravenosa aplicada lentamente (24).


    Cefazolina:

    A dose de cefazolina é de 22 mg/kg, TID (24). 

  • Anti-inflamatórios

    Anti-inflamatórios esteroidais: 

    Sugeriu-se a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais nos pacientes com intermação para melhorar a função neurológica, para proteger contra algumas alterações da disfunção múltipla dos órgãos e nos pacientes com edema e inflamação do trato respiratório secundário ao esforço respiratório contínuo (12, 35). 

    Entretanto, a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais é controversa devido ao risco de úlcera gastrointestinal e imunossupressão (24). 

    Não é recomendada a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais nos pacientes com intermação devido à possibilidade de aumentar a hemorragia gastrointestinal e aumentar a susceptibilidade às infecções (35). 

    A utilização dos anti-inflamatórios esteroidais somente é indicada a sua utilização caso os benefícios dos seus efeitos sejam superiores aos riscos e deve ser utilizada com cautela (24, 35). 

    Pode-se utilizar a dexametasona na dose de 0,15 mg/kg, que é uma dose anti-inflamatória (12).


    Anti-inflamatórios não-esteroidais: 

    Os seres humanos que desenvolvem quadro de intermação apresentam elevação nas citocinas pirogênicas (11, 12, 25, 35). 

    Os anti-inflamatórios não-esteroidais diminuem a temperatura corporal através do hipotálamo, regulam a formação de proteínas do choque térmico (11, 12, 25, 35). 

    Entretanto, apesar dos efeitos benéficos dos anti-inflamatórios não-esteroidais, não se recomenda utilizar esses medicamentos para o tratamento da intermação, pois os anti-inflamatórios não-esteroidais são ineficazes em diminuir a temperatura corporal nos casos de intermação, inibem a função plaquetária, além de inibir as prostaglandinas gastrointestinais e renais, predispondo as úlceras gastrointestinais e a doença renal aguda (11, 12, 25, 35).

  • Antipiréticos

    A utilização dos antipiréticos é contraindicada nos pacientes com intermação, pois os antipiréticos atuam no centro termorregulatório para controlar a febre e não atua na hipertermia dos pacientes com intermação (12).

  • Dantrolene sódica

    Mecanismo de ação: 

    A dantrolene sódica é um relaxante de musculatura esquelética que atua diretamente na junção neuromuscular das fibras distais da musculatura esquelética (1, 5, 31). 

    A dantrolene sódica atua através da inibição da liberação de íons de cálcio do retículo endoplasmático, sem ocasionar em alterações séricas de cálcio e de fósforo, e promove relaxamento muscular (1, 5, 31).


    Farmacologia:

    A dantrolene sódica apresenta baixa solubilidade e a biodisponibilidade é de apenas 35% em seres humanos que recebem esse medicamento pela via oral (18). 

    A absorção da dantrolene sódica também é lenta, sendo que a maior absorção do medicamento ocorre após 5 horas da administração (18).


    Utilização: 

    Nos suínos, a dantrolene sódica é utilizada para o tratamento da síndrome do estresse e da hipertermia maligna, sendo que o quadro clínico da hipertermia maligna e da intermação é bastante similar (1, 18). 

    Em seres humanos, a dantrolene sódica também é utilizada no tratamento da hipertermia maligna, espasticidade, intoxicação por ecstasy, síndrome maligna produzida por neuropléticos e derrame secundário à hipertermia. 

    Em cães e gatos, quando há aumento do tônus uretral externo, a dantrolene sódica é utilizada na obstrução funcional uretral (18). 

    Em equinos, a dantrolene sódica é utilizada no tratamento da rabdomiólise e para o tratamento e prevenção da miosite pós-anestésica (18).


    Vantagens:

    Não interfere com musculatura cardíaca e/ou respiratória quando utilizada em doses terapêuticas (18).


    Desvantagens:

    Cautela em fracos e debilitados, cardiopatas e/ou com distúrbios respiratórios (18, 31).


    Contraindicado em pacientes com hepatopatias:

    A dantrolene sódica apresenta efeito hepatotóxico (18).


    Efeitos colaterais: 

    Os efeitos colaterais da dantrolene sódica utilizada de forma crônica em seres humanos são fraqueza muscular, hepatite, flebite, alteração respiratória e desconforto gastrointestinal (18, 31). 

    Em alguns animais, a dantrolene sódica pode ocasionar em fraqueza muscular (31).


    Dose: 

    A dose utilizada de dantrolene sódica para os cães é de 1 a 5 mg/kg, TID, via oral ou 2 a 3 mg/kg, pela via intravenosa, enquanto a dose utilizada para os gatos é de 0,5 a 2 mg/kg, BID, via oral (31). 

    Essa dose não altera a função respiratória, não ocasiona em efeitos na musculatura lisa e na musculatura cardíaca e, consequentemente, não altera significativamente o débito cardíaco, a pressão central venosa e a pressão arterial sistêmica (1). 

    A dose indicada consegue reverter a rigidez muscular nos casos de hipertermia maligna em suínos (1). 

    A dantrolene sódica deve ser utilizada com o estômago vazio (31). 


    Recomendação: 

    A dantrolene sódica não melhorou os mecanismos de resfriamento corporal, não melhorou os parâmetros hemodinâmicos, não diminuiu os achados patológicos, não diminui o tempo de internação e não aumenta a taxa de sobrevida nos cães com intermação (1, 19, 31).

    Os pacientes com intermação apresentam excesso de calor corporal que excede a capacidade fisiológica do organismo de perder calor e não apresentam alteração no centro termorregulatório hipotalâmico (1). 

    A dantrolene sódica somente diminui a produção de calor corporal através da diminuição da produção de calor gerada pela rigidez da musculatura esquelética (1). 

    A administração de dantrolene sódica pode ser efetiva nos casos de intermação por esforço que apresentam rigidez muscular ou em pacientes que apresentam hipertermia maligna induzida por estresse, mas a dantrolene sódica não apresenta ação nos casos de intermação clássica (1, 19, 31).

  • Alimentação

    Os pacientes devem ser alimentados assim que for possível para atingir a reposição calórica e para reestabelecer a integridade gastrointestinal, mas somente deve ser iniciada após estabilização cardiovascular (11, 24).

    Recomenda-se realizar o suporte nutricional preferencialmente pela via enteral, mas pode-se utilizar a via parenteral em situações em que for impossível utilizar a via enteral (12).

    Caso o paciente não quiser se alimentar ou apresentar alteração neurológica importante como em um estado comatoso, por exemplo, pode-se passar uma sonda nasogástrica ou nasoesofágica, ou iniciar alimentação parenteral (11, 24).

    Caso o paciente for passar por um procedimento anestésico, recomenda-se passar uma sonda esofágica (11).

Tratamento das complicações secundárias

Arritmias cardíacas:

Introdução: 

O tratamento com antiarrítmicos deve ser considerado dependendo da gravidade da intermação e/ou quando houver sintomas clínicos associados à arritmia (10). 

Entretanto, antes de iniciar o tratamento com antiarrítmicos, importante tratar adequadamente a hipovolemia, dor, ansiedade, alterações eletrolíticas e alterações acidobásicas (24).


Lidocaína:

- Introdução: a lidocaína é utilizada para suprimir as arritmias cardíacas e apresenta ação antioxidante (25, 35). 


- Ação: a lidocaína diminui a liberação de cálcio intracelular, diminui a liberação de glutamato no tecido neuronal cerebral (consequentemente, diminui a produção de radicais livres), diminui a adesão e ativação dos leucócitos, diminui a liberação de citocinas pelos macrófagos e pelos neutrófilos polimorfonucleares e diminui a disfunção endotelial (25, 35). 


- Dose: em cães, a dose de lidocaína utilizada para suprimir as arritmias cardíacas é de 2 a 4 mg/kg, pela via intravenosa até reverter a arritmia cardíaca e posteriormente utilizar infusão contínua na dose de 40 a 80 μg/kg/minuto (25, 35).


Diminuição da contratilidade cardíaca e hipotensão arterial sistêmica:

Introdução: 

Os medicamentos para reverter a diminuição da contratilidade cardíaca e da hipotensão arterial sistêmica devem ser utilizados quando houver sintomas clínicos de vasodilatação e hipotensão arterial sistêmica arresponsiva ao tratamento com fluidoterapia (11).

Entretanto, esses medicamentos não devem ser utilizados até que o paciente esteja com adequada hidratação (35).

- Dopamina: a dose utilizada de dopamina é de 3 a 20 μg/kg/minuto (11, 24).


- Dobutamina: a dose utilizada de dobutamina em cães é de 2 a 20 μg/kg/minuto e em gatos é de 1 a 5 μg/kg/minuto (11).


- Noradrenalina: a dose utilizada de noradrenalina é de 0,05 a 2,0 μg/kg/minuto (11, 24).


- Vasopressina: a dose utilizada de vasopressina é de 0,01 a 0,04 μg/kg/minuto (11).

Introdução: 

Importante realizar o tratamento preventivo das alterações no trato gastrointestinal ocasionadas pela intermação, mesmo quando não houver sintomas clínicos iniciais (8).


Inibidores da bomba de prótons e inibidores de H2:

Indicação:

Os inibidores da bomba de prótons e os inibidores de H2 reduz a possibilidade de ocorrer lesão em mucosa gastrointestinal (12). 


Famotidina:

A famotidina é um inibidor de H2 utilizado para a prevenção e o tratamento da úlcera gástrica e pode ser utilizada na dose de 0,5 mg/kg, SID, pela via intravenosa (37).


Sucralfato: 

Indicação:

O sucralfato pode ser utilizado em casos de suspeita de úlcera gástrica, mas é inefetivo em prevenir úlceras gástricas (24). 


Dose:

A dose de sucralfato utilizada é de 0,25 a 1,0 gramas, TID (24).

A utilização do sucralfato por via oral deve ser reservada nos pacientes que apresentam reflexo de deglutição (24).


Antieméticos:

Ondansetrona: 

A dose de ondansetrona utilizada em cães é de 0,1 a 0,5 mg/kg, BID ou TID, pela via intravenosa, enquanto que em gatos a dose é de 0,5 mg/kg, BID, pela via intravenosa (11).


Metoclopramida:

A metoclopramida é utilizada para prevenir e tratar os vômitos (37).

A dose de metoclopramida utilizada é de 0,04 mg/kg/hora ou 1 a 2 mg/kg/por dia em infusão contínua (11, 37).


Maropitant: 

A dose de maropitant utilizada é de 1 mg/kg, SID, pela via subcutânea (11).

Indicado realizar ventilação com pressão positiva nos pacientes que apresentam hipoventilação devido ao edema cerebral e nos casos de inadequada difusão, oxigenação e perfusão pulmonar devido ao tromboembolismo pulmonar (10).

Manitol: 

Indicação:

Caso o paciente continuar a apresentar deterioração do sistema nervoso central mesmo após o tratamento inicial, importante realizarmos manitol (35).

A administração do manitol pode ser indicada para o paciente que apresenta aumento da pressão intracraniana, alteração neurológica e/ou que está com diminuição da produção urinária (11-12).


Mecanismo de ação:

O manitol é um diurético osmótico que expande o volume intravascular, diminui a viscosidade sanguínea, melhora a função renal, melhora a microcirculação cerebral, diminui a pressão intracraniana, diminui a viscosidade sanguínea e é um antioxidante (11, 25). 


Efeitos colaterais:

O manitol pode aumentar a hipercoagulabilidade da coagulação intravascular disseminada e aumentar a hemorragia intracraniana (11, 35). 


Dose:

A dose de manitol utilizada é de 500 a 1500 mg/kg, pela via intravenosa, administrada lentamente por um período de 15 a 20 minutos (11, 25). 


Contraindicação:

O manitol é contraindicado nos casos de hipernatremia, hiperosmolalidade sanguínea, intoxicação por salicilato, intoxicação por etilenoglicol, hemorragia ativa, edema pulmonar, vasculite, doença renal anúrica, desidratação e super-hidratação (11, 25).


Solução salina hipertônica 7,5%: 

Indicação:

A solução salina hipertônica 7,5% é utilizada em casos de aumento da pressão intracraniana (12). 


Vantagem:

A solução salina hipertônica reduz o risco de desidratação por diurese osmótica (12). 


Dose:

A dose de solução salina hipertônica é de 3 a 5 ml/kg, em bolus (24).


Fenobarbital: 

O fenobarbital deve ser utilizado quando o paciente apresentar quadros convulsivos (35).


Benzodiazepínicos:

Introdução: 

Os benzodiazepínicos são utilizados caso o paciente apresentar quadros convulsivos (12, 19).


Diazepam: 

A dose de diazepam é de 0,5 mg/kg, pela via intravenosa ou intranasal, ou na dose de 1,0 mg/kg, pela via intraretal (19).


Midazolam: 

A dose de midazolam é de 0,5 mg/kg, pela via intravenosa, intramuscular ou intranasal (19). 

O midazolam não é efetiva quando administrada pela via intraretal (19).


Dextrose:

A dextrose é utilizada nos casos de convulsão por hipoglicemia (19).

Há um estudo científico relatando que a transfusão de sangue pode ser realizada caso o hematócrito estiver menor do que 25% e houver alterações associadas à hipoperfusão tecidual (24).

Deve-se realizar o tratamento do choque dos pacientes que desenvolveram intermação (25).

Transfusão de plasma fresco congelado: 

A transfusão de plasma fresco congelado deve ser realizada caso houver suspeita de hipocoagulação sanguínea (25).

A transfusão de plasma fresco congelado pode ser utilizada antes da restauração do volume sanguíneo e durante a coagulação intravascular disseminada devido à ativação precoce da coagulação e da fibrinólise, além de corrigir o consumo dos constituintes da coagulação (5, 25).

A dose utilizada na transfusão de plasma fresco congelado é individual e está relacionada aos testes hemostáticos laboratoriais (5).

A transfusão de plasma fresco congelado deve ser realizada em 4 a 6 horas ou rapidamente (menor do que 1 hora) caso o paciente apresentar hipotensão arterial sistêmica (19).


Drotrecogina alfa?: 

A utilização de drotrecogina alfa diminui a mortalidade de seres humanos com sepse devido a sua ação anti-inflamatória e ação anticoagulação, sendo que seres humanos com intermação podem ser beneficiados com esse medicamento (25). 

Entretanto, o custo da drotrecogina alfa é muito elevado e quase não é utilizada na medicina veterinária (25).


Vitamina K1 (11).


Heparina?: 

Antigamente a heparina era utilizada no tratamento da coagulação intravascular disseminada. Entretanto, a heparina inibe os efeitos do sulfato de heparano na microcirculação e diminui os efeitos anti-inflamatórios da antitrombina (25).


Inibidores sintéticos de protease?: 

Os inibidores sintéticos de protease são utilizados no tratamento de seres humanos com coagulação intravascular disseminada evidente ou assintomática, mas esse medicamento não está disponível para utilização na medicina veterinária (5).

Introdução:

Como frequentemente a alteração da função renal somente ocorre apenas algumas horas após o insulto térmico, o suporte renal terapêutico precoce é primordial durante o tratamento da intermação (8). 


Eliminar a etiologia da doença renal aguda (37).


Tratamento suporte (37):

Furosemida:

Caso o paciente apresentar hidratação adequada, pressão arterial sistêmica dentro da normalidade e apresentar oligúria (débito urinário menor que 1 ml/kg/hora) ou anúria, recomenda-se utilizar a furosemida para reestabelecer o débito urinário (12, 35).

Antes de administrarmos furosemida, é importante que o paciente esteja com hidratação adequada, pois a administração de furosemida no paciente desidratado compromete o volume plasmático e diminui a perfusão tecidual (35).

A furosemida pode ser utilizada em bolus ou em infusão contínua (35). 


Dopamina: 

Novas evidências sugerem que baixa dose de dopamina não tem função na prevenção e no tratamento da doença renal aguda (37).


Fenoldopam:

- Mecanismo de ação: o fenoldopam é um agonista dopaminérgico de receptor dopamina-1 (37).


- Vantagens:

  • Vasodilatação das artérias periféricas: A vasodilatação das artérias periféricas promovida pelo fenoldopam aumenta seletivamente o fluxo sanguíneo cortical renal e medular externo, além de aumentar a taxa de filtração glomerular (37).

  • Vasodilatação das artérias renais: No túbulo proximal renal dos seres humanos, a ativação do receptor dopamina-1 resulta em vasodilatação das artérias renais, promovendo natriurese e diurese, aumentando o fluxo sanguíneo renal (37).

  • Não causa os efeitos colaterais da dopamina: Ao contrário da dopamina, o fenoldopam não está associado a efeitos adversos resultantes da ativação dos receptores α-adrenérgicos e β-adrenérgicos (37).

  • Aumenta débito urinário (37): O fenoldopam aumenta o débito urinário através da natriurese e do aumento da taxa de filtração glomerular (37). Entretanto, esse aumento do débito urinário ocasionado pelo fenoldopam é leve (37).

  • Diminui pressão arterial sistêmica: O fenoldopam é utilizado para tratar a hipertensão arterial sistêmica (37).

  • Diminuiu chance de ocorrer doença renal aguda: Há um estudo científico da medicina humana relatando que o fenoldopam diminuiu significamente a chance do paciente desenvolver doença renal aguda após um procedimento cirúrgico (37).

- Desvantagens:

  • Resultados diversos: Há alguns estudos científicos da medicina humana relatando que os seres humanos que receberam fenoldopam não apresentaram vantagens do seu uso enquanto outro estudo científico relatou que os seres humanos que receberam fenoldopam apresentaram diminuição da ocorrência da doença renal aguda e enquanto outro estudo científico não conseguiu mostrar efeitos semelhantes (37).

  • Não indicado para tratamento da doença renal aguda em cães: Há um estudo científico relatando que não indicam a utilização de fenoldopam para o tratamento da doença renal aguda associada à intermação (37). O fenoldopam não promove benefícios na doença renal aguda (37).

  • Não aumenta taxa de filtração glomerular e não diminui a azotemia: Há um estudo científico relatando que o fenoldopam não aumentou significamente a taxa de filtração glomerular e não diminuiu a azotemia de cães com intermação (37).

  • Pode ocasionar em hipotensão arterial sistêmica (37): A hipotensão arterial sistêmica ocasionada pelo fenoldopam é incomum e ocorre em somente 7% dos casos de cães tratados (37).

- Dose: a dose de fenoldopam utilizada é de 0,1 μg/kg/minuto pela via intravenosa em infusão contínua (37). Recomenda-se somente administrar o fenoldopam após corrigir a hidratação e a volemia do paciente (37).


Manitol: 

O manitol é utilizado para prevenir os quadros de oligúria ou anúria (37). Entretanto, há um estudo científico contraindicando a utilização de manitol nos casos de doença renal anúrica (25).


Corrigir as alterações hemodinâmicas e bioquímicas da uremia (37).


Hemodiálise: 

Realizamos a hemodiálise caso o tratamento medicamentoso não ter resultado (37).

Introdução: 

Caso o paciente com intermação apresentar hipoglicemia nas fases iniciais, deve-se administrar dextrose (11, 25).


Dose:

Dextrose 25%: 

A dose de dextrose 25% em bolus utilizada é de 500 mg/kg, pela via intravenosa (11, 25).


Dextrose 50%: 

A dose de dextrose 50% em bolus é de 0,25 a 0,5 ml/kg ou 0,25 gramas/kg, pela via intravenosa, diluído em solução salina na proporção de 1:3 (19).


Infusão contínua de dextrose:

Posteriormente ao bolus, recomenda-se realizar infusão contínua de dextrose 2,5% pela via intravenosa com taxa de infusão de 2 ml/kg/hora (11, 19, 25). 

Caso o paciente persistir com hipoglicemia mesmo com infusão contínua de dextrose 2,5%, pode-se aumentar a concentração de dextrose a até 7,5% (19, 35).

Monitoramento do paciente

O estado geral do paciente que desenvolve intermação pode mudar drasticamente durante as primeiras 24 a 48 horas do início do tratamento e por isso é necessário monitorar esses pacientes frequentemente (35).

Os pacientes com intermação que desenvolvem anemia devem ser monitorados frequentemente para avaliar se será necessária realizar transfusão de sangue com concentrado de hemácias ou sangue total (24).

A glicemia deve ser mensurada constantemente nas primeiras horas de tratamento (25).

Coloração das mucosas (25). 


Débito urinário (25). 


Temperatura das extremidades (25).


Lactato sérico:

O lactato sérico é um marcador da hipóxia tecidual (25). 

A mensuração seriada do lactato sérico é útil no monitoramento da resposta ao tratamento (25).

Recomenda-se monitorar a temperatura retal a cada 10 a 15 minutos nas primeiras 1 a 2 horas do início do tratamento dos pacientes que desenvolveram intermação para detectarmos a recidiva da hipertermia ou uma possível hipotermia (17, 35).

Há um estudo científico relatando que os macacos que desenvolveram intermação continuam com lesão tecidual mesmo após a normalização da temperatura corporal (8).

A normalização da temperatura corporal diminui a fibrinólise, mas não diminui o estado de hipercoagulabilidade induzido pela ativação da cascata de coagulação ou pela agregação plaquetária (10).

Durante o resfriamento corporal, importante monitorar a temperatura retal para evitar quadros de hipotermia e tremores musculares (4, 11, 25). 

Para evitar essas situações de hipotermia, o resfriamento corporal deve ser suspenso quando a temperatura retal ficar em 39,4 a 39,5° C (4, 11, 25). 

Acredita-se que a temperatura retal fique atrás da temperatura sanguínea real durante os períodos de aquecimento e resfriamento, portanto, uma vez registrada uma temperatura retal de 39,5° C, a temperatura sanguínea verdadeira pode estar abaixo de 39°C (20). 

Entretanto, as evidências de que a hipotermia altera o prognóstico do paciente que está sendo tratado para intermação é mista (27). 

Caso o paciente apresentar lesão no centro termorregulatório devido à intermação, o paciente pode apresentar quadros de hipertermia posteriormente (33).

Há um estudo científico relatando que a coagulação intravascular disseminada pode ficar evidente somente horas a dias após o insulto térmico inicial em cães com intermação (10). 

Como os pacientes podem apresentar alterações hemostáticas graves com o tempo, mesmo a avaliação hemostática estando normalizada ou discretamente alterada inicialmente, importante monitorar as alterações hemostáticas após 4 horas da primeira avaliação hemostática e posteriormente a cada 12 a 24 horas após o início do tratamento, além de avaliar se o paciente desenvolveu algum sintoma clínico relacionado com a coagulação intravascular disseminada como petéquias, equimoses, melena, hematoquezia e hematúria (5, 10, 33).

Há um estudo científico relatando que a concentração sérica das proteínas do choque térmico está elevada em todos os momentos de monitoramento do paciente com intermação (6). 

Apesar de não ter consenso sobre a concentração basal de proteínas do choque térmico, importante realizar a mensuração seriada das proteínas do choque térmico para acompanhar a evolução dinâmica do paciente com intermação (6).

A rápida mudança na concentração sérica das proteínas do choque está associada, pelo menos parcialmente, devido à fluidoterapia e devido à utilização de manitol (6). 

O manitol contribui para a excreção renal das proteínas do choque térmico (6).

Há um estudo científico relatando que os pacientes que sobrevivem à intermação apresentam diminuição da concentração sérica das proteínas do choque térmico após o início do tratamento, com menor valor após 12 horas do início do tratamento (6). Entretanto, os pacientes com intermação que apresentam elevação na concentração das proteínas do choque térmico após 24 horas do início do tratamento estão relacionada com a sobrevivência do paciente e essa elevação ocorre devido à melhora da ativação imunológica e para proteção corporal (6, 10).

O monitoramento cardiovascular consiste no monitoramento da frequência cardíaca e do ritmo cardíaco, mensuração da pressão arterial sistêmica a qualidade e quantidade de pulso femoral. Importante monitorarmos o paciente com eletrocardiograma de forma intermitente ou contínua e para avaliar a progressão da resolução das arritmias cardíacas (25, 35).

O monitoramento da função pulmonar é realizado através da oximetria, da mensuração dos gases sanguíneos e exames de imagem (12).

Essencial o monitoramento constante e seriado do sistema nervoso central durante o tratamento da hipertermia e dos sintomas clínicos de encefalopatia, que pode ser ocasionada pela própria hipertermia, desidratação e hipoperfusão (12, 24). 

Os pacientes com intermação também podem apresentar alteração neurológica durante o tratamento devido às alterações osmóticas ocasionadas pelas alterações de sódio sérico, que podem ocasionar em edema cerebral (16). 

Para realizarmos o monitoramento do sistema nervoso central, podemos utilizar o escala do Glasgow modificado (24).

As alterações clínicas e laboratoriais da doença renal aguda podem somente se desenvolver após alguns dias do insulto térmico e por isso é necessário realizar o acompanhamento da função renal dos pacientes que desenvolveram intermação, sendo que alguns pacientes podem apresentar doença renal crônica ou poliúria mesmo após ter se recuperado do quadro de intermação (33).

Após realizar a reposição volêmica do paciente, é importante avaliarmos o débito urinário, principalmente através de sonda uretral (12, 24).

O débito urinário ideal para os pacientes normovolêmicos é de 1 a 2 ml/kg/hora (12). Há um estudo científico relatando que os pacientes que sobreviveram à intermação apresentaram um maior débito urinário quando comparado com os pacientes que foram a óbito (36). 

Há um estudo científico relatando que a sonda uretral para acompanhamento do débito urinário deve ser reservada para os pacientes que apresentam risco de apresentar oligúria ou anúria, pois a sondagem uretral pode ocasionar em infecção urinária ascendente (24). 

O circuito da sonda uretral deve ser estéril e em sistema fechado para diminuir a possibilidade de infecção urinária ascendente (24).

Prognóstico

A taxa de mortalidade dos pacientes com intermação é de 40 a 64%, independentemente se o paciente é braquicefálico ou não é braquicefálico, e as principais causas de mortalidade são devido à deterioração do sistema hemodinâmico e devido às lesões pulmonares (2, 5-6).

A alta taxa de mortalidade em pacientes com intermação ocorre devido à inexistência de um tratamento específico para inibir a ativação das vias de coagulação e hemostática (6).

O prognóstico dos casos de intermação é reservado nos casos de (34):

Maior proporção de metarrubrícitos: 

Quanto maior a proporção de metarrubrícitos em relação às células vermelhas nucleadas, menor a lesão em medula óssea e melhor o prognóstico (2). 

Comum o paciente com intermação com pouca lesão em medula óssea começar a apresentar diminuição das células vermelhas nucleadas e elevação da proporção de metarrubrícitos em relação às células vermelhas nucleadas durante a hospitalização e a recuperação (2). 

Entretanto, há um estudo científico relatando que os pacientes que não sobreviveram apresentaram maior quantidade de metarrubrícitos na admissão quando comparado com os pacientes que sobreviveram à intermação (10).


Melhora das alterações hemostáticas:

A melhora do prolongamento do tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativa (TTPa), fibrinogênio e da atividade da proteína C 12 a 24 horas após admissão do paciente com intermação indicam melhor prognóstico (5, 12).


Sobreviver após 48 a 72 horas da admissão: 

Normalmente os pacientes que desenvolvem intermação vão a óbito de 4,4 a 30 horas após o insulto térmico inicial (8). Há alguns estudos científicos relatando que os cães que permaneceram vivos de 48 a 72 horas após a admissão ao médico veterinário sobreviveram (12, 24, 35). Os cães com histórico de intermação mantêm os marcadores de estresse, mesmo após a recuperação fisiológica (7).

O prognóstico dos casos de intermação é ruim nos casos de (34):

Albumina sérica diminuída (2). 


Alteração neurológica:

Os pacientes com intermação que estão com alteração neurológica logo na admissão ao médico veterinário ou que desenvolve alteração neurológica como colapso, alteração no nível de consciência ou convulsão mesmo após iniciado o tratamento apresentam prognóstico ruim (2, 6, 24, 34).

Os pacientes com intermação que estão em coma apresentam maior taxa de mortalidade quando comparado com os pacientes que não estão em coma (2, 6, 24, 34).


Arritmias ventriculares: 

Os cães que desenvolvem arritmias ventriculares como a contração ventricular prematura, por exemplo, devido ao quadro de intermação apresentam maior mortalidade quando comparado com os cães que não desenvolvem arritmias ventriculares (2, 10-11, 24).


Azotemia sustentada ou oligúria: 

A azotemia sustentada e a presença de oligúria mesmo após início da fluidoterapia estão associadas com prognóstico ruim e alta mortalidade (24). 

Os pacientes com intermação que não desenvolvem oligúria apresentam melhor prognóstico quando comparado com os pacientes que desenvolvem oligúria (37).


Bilirrubina total elevada (24).


Células vermelhas nucleadas: 

A presença de células vermelhas nucleadas nos pacientes com intermação é um marcador específico e sensível de óbito (2). 

A presença e a magnitude das células vermelhas nucleadas nunca devem ser utilizadas de forma isolada para determinar o prognóstico dos pacientes com intermação. (2). 

Entretanto, as células vermelhas nucleadas relativas apresentam maior fator prognóstico quando comparado com as células vermelhas nucleadas absolutas e não se sabe o porquê disso, mas acredita-se que as células vermelhas nucleadas refletem melhor a magnitude da lesão (2). 

Quanto maior a quantidade média de células vermelhas relativas no sangue periférico, pior o prognóstico (2).


Coagulação intravascular disseminada: 

A coagulação intravascular disseminada é um fator importante na morbidade e mortalidade de pacientes com intermação (10-11).


Colesterol sérico diminuído (2).


Concentração de dímero D: 

Embora a elevação na concentração de dímero D seja comum nos pacientes com intermação e permanece elevada durante todo o tempo nos pacientes com intermação, quanto maior a concentração de dímero D, maior a fibrinólise no paciente com intermação e pior o prognóstico (5, 10).


Demora em levar o pet para atendimento médico veterinário (20):

Um estudo científico relatou que o responsável que demora tempo superior a 90 minutos em levar o paciente para atendimento médico veterinário apresenta maior risco de ir à óbito (34).

A média de tempo desde a instalação do insulto térmico até a apresentação do paciente para atendimento médico veterinário é de 3 horas (2).


Dispneia (24).


Doença renal aguda (2, 34).


Edema pulmonar (24).


Evidência de coagulação intravascular disseminada: 

Os pacientes que apresentam maior tempo de protrombina, maior tempo de tromboplastina parcial ativa, elevação na concentração de fibrinogênio (hiperfibrinogenemia) e diminuição da proteína C mesmo após 12 a 24 horas após o início do tratamento apresentam pior prognóstico quando comparado com os pacientes que não apresentam alteração hemostática após 12 a 24 horas após o início do tratamento (5, 10).


Hemogasometria: 

Os pacientes com intermação que apresentam diminuição do pH sanguíneo e diminuição do bicarbonato sérico apresentam maior mortalidade (9).


Hiperbilirrubinemia (11).


Hipertermia: 

Quanto maior a hipertermia, maior a lesão em medula óssea e pior o prognóstico do paciente com intermação (2).


Hipoglicemia na apresentação ou sustentada: 

A hipoglicemia na apresentação do paciente no atendimento médico veterinário e a hipoglicemia sustentada mesmo após instituição de tratamento para reversão estão associadas à alta mortalidade (2, 24). 


Hipoproteinemia: 

Os pacientes com intermação com hipoproteinemia na admissão ou com hipoproteinemia sustentada apresentam prognóstico ruim (2, 35).


Hipotensão arterial sistêmica refratária ao tratamento (11). 


Hipotermia: 

Os pacientes que apresentam hipotermia na apresentação ou durante a progressão do tratamento apresentam prognóstico ruim. (24)


Histonas séricas: 

A concentração de histona sérica se correlaciona com a gravidade da afecção (9-10). 

A concentração de histona sérica está mais elevada nos pacientes que não sobreviveram à intermação, nos pacientes que apresentam distúrbios hemostáticos graves e nos pacientes que apresentam alteração em outros biomarcadores de falência de órgãos (9-10).


Lactato sérico:

O lactato sérico é maior nos pacientes que não sobreviveram à intermação quando comparado com os pacientes que sobreviveram à intermação (6). 

Os pacientes com intermação que não apresenta diminuição do lactato sérico mesmo depois de instituído fluidoterapia apresentam prognóstico ruim (35).


Maior proporção de rubrícitos:

Quanto maior a proporção de rubrícitos em relação às células vermelhas nucleadas, maior a lesão em medula óssea e pior o prognóstico do paciente com intermação (2). 


Menor proporção de metarrubrícitos: 

Quanto menor a proporção de metarrubrícitos em relação às células vermelhas nucleadas, maior a lesão em medula óssea e pior o prognóstico do paciente com intermação. (2)


Obesidade e aumento do escore corporal: 

A obesidade e o aumento do escore corporal numa escala de 6/9 são fatores de risco de óbito em cães com intermação (2, 17).


Petéquias: 

A presença de petéquias indica a presença uma complicação secundária à intermação e por isso que a presença de petéquias está relacionada a um pior prognóstico nos pacientes com intermação (34).


Proteínas do choque térmico:

A concentração das proteínas do choque térmico é utilizada como biomarcador da gravidade da intermação em cães, macacos e seres humanos (7). 

A concentração sérica de proteínas do choque térmico é utilizada como fator prognóstico dos pacientes com intermação (10). 

Em seres humanos que desenvolveram intermação devido a uma corrida de 14 km que desenvolveram sintomas neurológicos como confusão, por exemplo, e em cães que desenvolveram doença renal aguda secundária à intermação apresentaram aumento na concentração sérica das proteínas do choque térmico (10). 

Os pacientes com intermação que apresentam baixa concentração sérica das proteínas do choque térmico na admissão ou com a concentração das proteínas do choque térmico inalterada durante o tratamento apresentam prognóstico ruim (6). 

Entretanto, há um estudo científico relatando que os pacientes que sobreviveram à intermação apresentaram menor concentração de proteínas do choque térmico quando comparado com os pacientes que não sobreviveram à intermação (10).

Prevenção

  • Introdução

    A intermação é uma condição totalmente evitável (20). 

    Entretanto, um estudo científico relatou que a chance do paciente apresentar um segundo quadro de intermação, que corresponde a 74,6%, é maior do que a chance do paciente apresentar o primeiro quadro de intermação, que é de 1,9% (17).

  • Anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais

    Os anti-inflamatórios não-esteroidais induzem uma regulação positiva das proteínas do choque térmico e podem ser úteis na profilaxia da intermação durante as ondas de calor ambiental (24-25). 

    A transcrição e a tradução das proteínas do choque térmico pelas células dos mamíferos são induzidas através da ativação de fatores de choque térmico por dexametasona, salicilato e anti-inflamatórios não-esteroidais.

  • Educação dos responsáveis

    Introdução:

    A prevenção da intermação se inicia através da educação e conscientização dos responsáveis (12). 

    Como há o aumento da temperatura e dos fenômenos meteorológicos extremos no mundo, importante orientar o responsável quanto ao risco dos pets desenvolverem a intermação clássica e da necessidade de diminuir a possibilidade do pet desenvolver essa afecção (14, 21).


    Evitar que o pet fique acima do peso ideal ou obesos (12).


    Fornecer água limpa e fresca, sombra e ventilação ao pet (12, 24).


    Não confinar os pets em ambientes fechados sem acesso à sombra e água fresca: 

    Importante orientar o responsável de que é necessário fornecer um abrigo com boa ventilação para o pet e não confinar o pet em locais fechados (12, 24). 


    Deixar o pet por pouco tempo dentro do automóvel com os vidros fechados, é muito tempo:

    Importante sempre orientar e desencorajar o responsável a não deixar o pet dentro do automóvel, principalmente em dias ensolarados e quentes, e transmitir a informação de que “rapidinho, é muito rápido” (12, 20, 23). 

    Há um estudo científico relatando que a temperatura interna de um automóvel totalmente fechado ou com os vidros parcialmente abertos atinge temperatura de 38º C em cerca de 20 minutos (39). 

    Um automóvel de coloração escura estacionado em um dia ensolarado com temperatura ambiental de 22º C pode atingir temperatura interna de 40º após 10 minutos e exceder os 47º C após 1 hora (20). 

    O mesmo automóvel pode atingir temperatura interna de 60º C após 1 hora estacionado em um dia ensolarado com temperatura ambiental de 31º C (20). 

    Abrir algumas frestas da janela do automóvel se demonstrou não ter efeito nenhum no aumento geral da temperatura total (20). 

    Há um estudo científico que relatou que os pets que foram confinados no interior do automóvel tiveram 3 vezes mais chances de desenvolver intermação severa quando comparado com a intermação por esforço físico (23).


    Pré-condicionamento dos pets: 

    O exercício físico é um elemento essencial para a aclimatização dos seres humanos e dos cães e é caracterizado pelo aumento do consumo de oxigênio, acidose lática e aumento na produção de radicais livres (7). 

    O exercício físico prévio pode, pelo menos em parte, prevenir a intermação (7). 

    A má aptidão física e a restrição ao exercício físico afetam negativamente a eficácia da termorregulação, além de diminuir a resistência ao exercício físico (23). 

    Importante orientar o responsável de que os pets não morrem somente em “automóveis quentes” e que os pets podem morrer devido ao exercício físico, principalmente quando tiver elevada temperatura ambiental (21). 

    Extremamente perigoso encorajar o responsável a iniciar o pré-condicionamento na primavera e no verão nos pets que não se exercitam (13). 

    Importante orientar os responsáveis a realizar exercícios físicos regulares, com início lento em climas quentes e úmidos, e durante os horários mais frios do dia como de manhã cedo ou começo da noite até que ocorra a adequada aclimatização do pet (19, 24).


    Verificar o índice de calor antes de praticar exercícios físicos, principalmente nos meses mais quentes do ano: 

    O exercício físico intenso aumenta a taxa metabólica de 10 a 14 vezes a taxa metabólica basal (29). 

    Importante educar o responsável a praticar exercício físico com o pet, independentemente da raça e idade do pet, nos horários mais frios do dia e em áreas com sombras, além de nunca forçar o exercício físico quando a temperatura ambiente estiver elevada (12, 24, 33).

    Há um estudo científico relatando que cães podem desenvolver intermação após 6 minutos de exercício físico em temperatura ambiental elevada e que os cães são mais susceptíveis ao desenvolvimento de intermação devido ao exercício físico do que outras espécies animais (20, 29). 

    Há relatos de pets, principalmente os pets obesos e/ou de raças braquicefálicas, que desenvolveram intermação após uma atividade física de baixa intensidade em temperatura ambiental relativamente baixa e por isso não se recomenda nem caminhar com o pet quando a temperatura ambiental estiver elevada (20-23).

    Cautela durante a realização do exercício físico em pacientes obesos, pois esses pacientes apresentam dificuldade em dissipar calor corporal (12).


    Observar sintomas de estresse térmico: 

    Importante educar o responsável quanto aos possíveis sintomas de estresse térmico como paciente que fica ofegante (às vezes parece que o pet está “sorrindo” por apresentar retração dos cantos da boca para aumentar a superfície e maximizar a evaporação), pet fica com a língua mais protruída e pendurada, que fica procurando locais com sombras e/ou que se reluta a realizar exercício físico (12, 17, 19-20). 

    O responsável que não é orientado pelo médico veterinário quanto aos sintomas de estresse térmico pode não procurar o atendimento médico veterinário até que o cão progrida para quadro de intermação grave (23).

    Quanto maior a orientação do responsável quanto aos sintomas de intermação, mais rapidamente será a medida tomada para evitar o agravamento da intermação e melhor o prognóstico (23).

    (Foto: fotografia demonstrando um Bulldog Francês com aspecto de "sorrindo" e com estenose de narina, que é uma das alterações da síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos. [Fonte: própria, 2024])


    Monitorar temperatura corporal: 

    Importante educar o responsável a monitorar a temperatura corporal, pois alguns pets continuam realizando exercício físico mesmo após a elevação da temperatura corporal até entrarem em colapso (12).

  • Fórmula matemática para não se exercitar com o pet

    Há uma fórmula matemática que consiste em “temperatura ambiental (ºC) x umidade (%) > 1000” que indica se será possível se exercitar com o pet ou não (13). 

    Caso o resultado da fórmula matemática for inferior a 1000, significa que será possível se exercitar com o pet sem grandes complicações, mas um estudo científico contraindica exercitar com o pet baseado somente no resultado dessa fórmula matemática e não indica para todos os pets, uma vez que existem variações entre os pets (13).

  • Identificação dos pacientes predispostos a desenvolver intermação

    A identificação dos pacientes predispostos a desenvolver intermação
    auxilia no manejo do paciente (7).

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  • Referências bibliográficas

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Atualizado em: 09/05/2024