Intermação (heatstroke)
Introdução
Definição
A intermação, também chamada de doença relacionada ao calor, é uma condição aguda emergencial que resulta em extrema hipertermia não-pirético com temperatura corporal acima de 41° C em cães (acima de 40º C em seres humanos) no qual excede a habilidade do organismo em realizar a termorregulação associada à incapacidade do organismo em dissipar o calor acumulado e está associada à síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), instabilidade hemodinâmica, deterioração neurológica, lesão tecidual, síndrome da disfunção múltipla dos órgãos e óbito (1-2, 4, 6, 8, 12, 19, 25, 33).
Os pacientes que desenvolvem intermação necessitam de intervenção terapêutica imediata, agressiva e intensiva, além de monitoramento contínuo (33).
Predisposição
Relacionadas ao paciente
Relacionadas ao ambiente

Relacionadas às afecções que predispõe à intermação
Etiologia da intermação
Exógena
Anfetamina:
A anfetamina eleva a temperatura corporal (11, 25).
Diuréticos:
Os diuréticos como a furosemida, por exemplo, diminuem a dissipação de calor corporal (11, 12).
Exposição à altas temperaturas ambientais, sem sombra, ventilação e água fresca (12. 24).
Fenotiazínicos:
Os fenotiazínicos diminuem a dissipação de calor corporal devido à diminuição do débito cardíaco e diminuição do volume sanguíneo (12).
Halotano:
O halotano eleva a temperatura corporal (11, 25).
Inotrópicos negativos:
Os inotrópicos negativos diminuem a dissipação de calor corporal devido à diminuição do débito cardíaco e diminuição do volume sanguíneo (12).
Metaldeído:
O metaldeído eleva a temperatura corporal (11, 25).
Nozes de macadâmia:
As nozes de macadâmia elevam a temperatura corporal (25).
Organofosforados:
Os organofosforados elevam a temperatura corporal (11, 25).
Endógena
Convulsões:
As convulsões ocasionam em tremores musculares involuntários que elevam a temperatura corporal (10).
A convulsão eleva o metabolismo e o consumo de oxigênio, aumenta a liberação de catecolaminas (que aumentam a frequência cardíaca e pressão arterial sistêmica), ocorre hipertermia secundária à atividade muscular exacerbada e o paciente pode apresentar salivação e/ou vômito (12).
Eclampsia (25).
Exercício físico (25).
Febre (25).
Hipertermia hormonal (hipertireoidismo) (25).
Miopatia e rigidez muscular (12).
Classificação

Respostas sistêmicas e celulares devido ao estresse térmico
Fisiopatologia
Introdução
A intermação ocorre quando o organismo do paciente não consegue dissipar o calor gerado pelo próprio metabolismo, exercício físico e/ou elevação da temperatura ambiente, a temperatura corporal ultrapassa de 41º C, os mecanismos termorregulatório ficam ineficientes e se iniciam diversos processos inflamatórios, microcirculatórios, vasculares, hemostáticos e danos teciduais com gravidade e taxa de progressão variada entre os pacientes (5-6, 12, 25).
O desequilíbrio entre a produção de calor e a dissipação de calor é impactado pela termorregulação, aclimatização, pela resposta de fase aguda, pela produção de proteínas do choque térmico e pelos fatores de predisposição do paciente (25, 33).
Com a intermação ocorre lesão tecidual térmica direta, citotoxicidade direta, formação de radicais livres, ativação de neutrófilos, formação de espécies reativas do oxigênio, indução de estresse oxidativo celular, disfunção dos órgãos, aumento da demanda metabólica, choque circulatório, hipóxia, endotoxemia, liberação e ativação de citocinas e quimiocinas, ativação e/ou lesão às células endoteliais, ativação da coagulação e fibrinólise, além da ativação e amplificação da inflamação (5, 7, 8 25).
A endotoxemia, hipoperfusão, isquemia e ativação dos neutrófilos contribuem para a lesão endotelial difusa em diversos órgãos como endocárdio, epicárdio e capilares intersticiais pulmonares (8).
A lesão endotelial promove o aumento da permeabilidade com consequente edema, sendo esse mecanismo similar ao da sepse (8).
Complicações da intermação
Sintomatologia clínica
Introdução
Dependendo se a aclimatização do paciente não foi realizada adequadamente, a gravidade dos sintomas clínicos da intermação está correlacionada com a temperatura retal máxima atingida e com a duração da temperatura máxima atingida (10).
Entretanto, os sintomas clínicos nos mais diversos sistemas do organismo podem somente se desenvolver após 3 a 5 dias do insulto térmico inicial (12).
Diagnóstico
Anamnese
Normalmente o histórico do paciente envolve exercício físico recente ou confinamento em ambiente quente e com alta umidade, mas algumas vezes o histórico é incompleto e vago (2, 10, 12, 25).
Ocasionalmente, o responsável relata que o paciente teve um colapso durante uma atividade física ou uma brincadeira (10).
Em pacientes mantidos em locais abertos, estresse térmico importante, com acesso limitado a sombra e água fresca, o responsável pode somente relatar que encontrou o paciente desmaiado (10).
Apesar do diagnóstico de intermação ser realizada através do histórico relatado pelo responsável, sintomas clínicos e resultados dos exames laboratoriais, a intermação nunca deve ser descartada ou excluída devido à ausência de um histórico de esforço físico ou exposição ao insulto térmico (10).
Importante questionar o responsável quanto a presença de outras afecções e se o paciente é medicado com algum medicamento (24).
Exame físico
Hemograma
Exames bioquímicos
Hemogasometria
Alterações hemostáticas
Urinálise (urina 1)
Exames de imagem
Exame histopatológico
Diagnósticos diferenciais
Afecções que causam febre
Importante diferenciarmos intermação das afecções que causam febre como infecções virais ou bacterianas, afecções imunomediadas e neoplasia (35).
Como a febre nesses pacientes ocorre devido a uma alteração no centro termorregulador do hipotálamo, esses os pacientes com febre costumam apresentar comportamentos que tendem a aumentar a temperatura corporal como tremores, por exemplo (35).
Entretanto, esses pacientes normalmente não apresentam histórico de exposição ao calor ou de excesso de exercício físico, não apresentam sintomas de aumentar a dissipação de calor como taquipneia e hipersalivação, por exemplo, enquanto os pacientes com intermação estão fracos, com ataxia e não conseguem ou se relutam a se levantar (35).
Hipertermia maligna
A hipertermia maligna é uma afecção familial caraterizada por rigidez muscular e hiperpirexia (1).
A hipertermia maligna ocorre em resposta a vários agentes anestésicos (1).
Na hipertermia maligna, a hiperpirexia é ocasionada por um estado hipermetabólico do músculo esquelético com consequente aumento da produção de calor corporal (1).
Os pacientes com maior predisposição a desenvolver hipertermia maligna estão mais susceptíveis ao desenvolvimento da intermação (1).
Tratamento
Introdução
Apesar de não ter nenhum tratamento específico para interromper ou para diminuir a inflamação sistêmica e o desequilíbrio hemostático dos cães com intermação, a rápida e agressiva intervenção terapêutica e o monitoramento do paciente são necessários para evitar complicações secundárias graves (9, 12).
Caso não identificarmos e iniciarmos o tratamento rapidamente, a intermação progride para risco de óbito (35).
Sedação
Acepromazina:
A acepromazina é efetiva em reduzir o estresse e promover tranquilidade ao paciente, além de poder ser utilizada de forma isolada ou combinada com os alfa-2 agonistas (12).
A dose da acepromazina utilizada é de 0,02 mg/kg (12).
Butorfanol:
O butorfanol é um opioide com bom efeito sedativo e pode ser utilizado de forma isolada ou combinada com outros sedativos (12).
A dose utilizada de butorfanol é de 0,2 a 0,4 mg/kg (12).
Propofol:
O propofol é utilizado nos pacientes que precisam ser intubados (12).
Oxigênioterapia
Devido ao aumento da temperatura corporal, há o aumento da frequência cardíaca e aumento da demanda de oxigênio (12).
A oxigênioterapia deve ser utilizada em pacientes que apresentam qualquer alteração pulmonar e pode ser realizada com máscaras, sondas, incubadoras ou intubação endotraqueal (12, 24-25).
Os pacientes comatosos e os braquicefálicos devem ser intubados imediatamente para suplementação de oxigênio com ventilação mecânica até que o paciente volte a respirar espontaneamente (12).
Caso o paciente apresentar apneia, respiração agônica ou estiver em estado comatoso, é indicado realizar o procedimento de intubação endotraqueal imediatamente e a ventilação com pressão positiva deve ser realizada até que o paciente volte a respirar espontaneamente e adequadamente (24).
Rápido resfriamento
Fluidoterapia
Antibióticos
Indicação:
Apesar de nunca ter sido comprovada a translocação bacteriana nos pacientes com intermação, importante iniciar tratamento com antibiótico de amplo espectro (que seja efetivo contra bactérias gram-negativas, bactérias gram-positivas e bactérias anaeróbicas) devido à possibilidade de translocação bacteriana e devido aos quadros hemorrágicos intestinais, à melena, à hematoquezia e/ou anorexia prolongada (10-12, 24).
A antibióticoterapia deve ser utilizada até a estabilização cardiovascular, manutenção da perfusão tecidual, voltar a se alimentar espontaneamente e após cessar os sintomas gastrointestinais (12, 24).
Controversa:
Há um estudo científico relatando que a utilização de antibióticos no tratamento da intermação é controversa, pois os antibióticos podem ocasionar em resistência bacteriana e ocasionar em alterações da microbiota intestinal, mas que há indicação de utilização em casos de hipoperfusão intestinal, imunossupressão e/ou disfunção hepática (12).
Antibióticos:
Ampicilina:
A dose de ampicilina utilizada é de 20 a 22 mg/kg, TID, pela via intravenosa (24).
Enrofloxacina:
A dose de enrofloxacina utilizada é de 10 a 15 mg/kg, SID, pela via intravenosa aplicada lentamente (24).
Cefazolina:
A dose de cefazolina é de 22 mg/kg, TID (24).
Anti-inflamatórios
Anti-inflamatórios esteroidais:
Sugeriu-se a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais nos pacientes com intermação para melhorar a função neurológica, para proteger contra algumas alterações da disfunção múltipla dos órgãos e nos pacientes com edema e inflamação do trato respiratório secundário ao esforço respiratório contínuo (12, 35).
Entretanto, a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais é controversa devido ao risco de úlcera gastrointestinal e imunossupressão (24).
Não é recomendada a utilização dos anti-inflamatórios esteroidais nos pacientes com intermação devido à possibilidade de aumentar a hemorragia gastrointestinal e aumentar a susceptibilidade às infecções (35).
A utilização dos anti-inflamatórios esteroidais somente é indicada a sua utilização caso os benefícios dos seus efeitos sejam superiores aos riscos e deve ser utilizada com cautela (24, 35).
Pode-se utilizar a dexametasona na dose de 0,15 mg/kg, que é uma dose anti-inflamatória (12).
Anti-inflamatórios não-esteroidais:
Os seres humanos que desenvolvem quadro de intermação apresentam elevação nas citocinas pirogênicas (11, 12, 25, 35).
Os anti-inflamatórios não-esteroidais diminuem a temperatura corporal através do hipotálamo, regulam a formação de proteínas do choque térmico (11, 12, 25, 35).
Entretanto, apesar dos efeitos benéficos dos anti-inflamatórios não-esteroidais, não se recomenda utilizar esses medicamentos para o tratamento da intermação, pois os anti-inflamatórios não-esteroidais são ineficazes em diminuir a temperatura corporal nos casos de intermação, inibem a função plaquetária, além de inibir as prostaglandinas gastrointestinais e renais, predispondo as úlceras gastrointestinais e a doença renal aguda (11, 12, 25, 35).
Antipiréticos
A utilização dos antipiréticos é contraindicada nos pacientes com intermação, pois os antipiréticos atuam no centro termorregulatório para controlar a febre e não atua na hipertermia dos pacientes com intermação (12).
Dantrolene sódica
Mecanismo de ação:
A dantrolene sódica é um relaxante de musculatura esquelética que atua diretamente na junção neuromuscular das fibras distais da musculatura esquelética (1, 5, 31).
A dantrolene sódica atua através da inibição da liberação de íons de cálcio do retículo endoplasmático, sem ocasionar em alterações séricas de cálcio e de fósforo, e promove relaxamento muscular (1, 5, 31).
Farmacologia:
A dantrolene sódica apresenta baixa solubilidade e a biodisponibilidade é de apenas 35% em seres humanos que recebem esse medicamento pela via oral (18).
A absorção da dantrolene sódica também é lenta, sendo que a maior absorção do medicamento ocorre após 5 horas da administração (18).
Utilização:
Nos suínos, a dantrolene sódica é utilizada para o tratamento da síndrome do estresse e da hipertermia maligna, sendo que o quadro clínico da hipertermia maligna e da intermação é bastante similar (1, 18).
Em seres humanos, a dantrolene sódica também é utilizada no tratamento da hipertermia maligna, espasticidade, intoxicação por ecstasy, síndrome maligna produzida por neuropléticos e derrame secundário à hipertermia.
Em cães e gatos, quando há aumento do tônus uretral externo, a dantrolene sódica é utilizada na obstrução funcional uretral (18).
Em equinos, a dantrolene sódica é utilizada no tratamento da rabdomiólise e para o tratamento e prevenção da miosite pós-anestésica (18).
Vantagens:
Não interfere com musculatura cardíaca e/ou respiratória quando utilizada em doses terapêuticas (18).
Desvantagens:
Cautela em fracos e debilitados, cardiopatas e/ou com distúrbios respiratórios (18, 31).
Contraindicado em pacientes com hepatopatias:
A dantrolene sódica apresenta efeito hepatotóxico (18).
Efeitos colaterais:
Os efeitos colaterais da dantrolene sódica utilizada de forma crônica em seres humanos são fraqueza muscular, hepatite, flebite, alteração respiratória e desconforto gastrointestinal (18, 31).
Em alguns animais, a dantrolene sódica pode ocasionar em fraqueza muscular (31).
Dose:
A dose utilizada de dantrolene sódica para os cães é de 1 a 5 mg/kg, TID, via oral ou 2 a 3 mg/kg, pela via intravenosa, enquanto a dose utilizada para os gatos é de 0,5 a 2 mg/kg, BID, via oral (31).
Essa dose não altera a função respiratória, não ocasiona em efeitos na musculatura lisa e na musculatura cardíaca e, consequentemente, não altera significativamente o débito cardíaco, a pressão central venosa e a pressão arterial sistêmica (1).
A dose indicada consegue reverter a rigidez muscular nos casos de hipertermia maligna em suínos (1).
A dantrolene sódica deve ser utilizada com o estômago vazio (31).
Recomendação:
A dantrolene sódica não melhorou os mecanismos de resfriamento corporal, não melhorou os parâmetros hemodinâmicos, não diminuiu os achados patológicos, não diminui o tempo de internação e não aumenta a taxa de sobrevida nos cães com intermação (1, 19, 31).
Os pacientes com intermação apresentam excesso de calor corporal que excede a capacidade fisiológica do organismo de perder calor e não apresentam alteração no centro termorregulatório hipotalâmico (1).
A dantrolene sódica somente diminui a produção de calor corporal através da diminuição da produção de calor gerada pela rigidez da musculatura esquelética (1).
A administração de dantrolene sódica pode ser efetiva nos casos de intermação por esforço que apresentam rigidez muscular ou em pacientes que apresentam hipertermia maligna induzida por estresse, mas a dantrolene sódica não apresenta ação nos casos de intermação clássica (1, 19, 31).
Alimentação
Os pacientes devem ser alimentados assim que for possível para atingir a reposição calórica e para reestabelecer a integridade gastrointestinal, mas somente deve ser iniciada após estabilização cardiovascular (11, 24).
Recomenda-se realizar o suporte nutricional preferencialmente pela via enteral, mas pode-se utilizar a via parenteral em situações em que for impossível utilizar a via enteral (12).
Caso o paciente não quiser se alimentar ou apresentar alteração neurológica importante como em um estado comatoso, por exemplo, pode-se passar uma sonda nasogástrica ou nasoesofágica, ou iniciar alimentação parenteral (11, 24).
Caso o paciente for passar por um procedimento anestésico, recomenda-se passar uma sonda esofágica (11).
Tratamento das complicações secundárias
Monitoramento do paciente
Prognóstico
Prevenção
Introdução
A intermação é uma condição totalmente evitável (20).
Entretanto, um estudo científico relatou que a chance do paciente apresentar um segundo quadro de intermação, que corresponde a 74,6%, é maior do que a chance do paciente apresentar o primeiro quadro de intermação, que é de 1,9% (17).
Anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais
Os anti-inflamatórios não-esteroidais induzem uma regulação positiva das proteínas do choque térmico e podem ser úteis na profilaxia da intermação durante as ondas de calor ambiental (24-25).
A transcrição e a tradução das proteínas do choque térmico pelas células dos mamíferos são induzidas através da ativação de fatores de choque térmico por dexametasona, salicilato e anti-inflamatórios não-esteroidais.
Educação dos responsáveis
Introdução:
A prevenção da intermação se inicia através da educação e conscientização dos responsáveis (12).
Como há o aumento da temperatura e dos fenômenos meteorológicos extremos no mundo, importante orientar o responsável quanto ao risco dos pets desenvolverem a intermação clássica e da necessidade de diminuir a possibilidade do pet desenvolver essa afecção (14, 21).
Evitar que o pet fique acima do peso ideal ou obesos (12).
Fornecer água limpa e fresca, sombra e ventilação ao pet (12, 24).
Não confinar os pets em ambientes fechados sem acesso à sombra e água fresca:
Importante orientar o responsável de que é necessário fornecer um abrigo com boa ventilação para o pet e não confinar o pet em locais fechados (12, 24).
Deixar o pet por pouco tempo dentro do automóvel com os vidros fechados, é muito tempo:
Importante sempre orientar e desencorajar o responsável a não deixar o pet dentro do automóvel, principalmente em dias ensolarados e quentes, e transmitir a informação de que “rapidinho, é muito rápido” (12, 20, 23).
Há um estudo científico relatando que a temperatura interna de um automóvel totalmente fechado ou com os vidros parcialmente abertos atinge temperatura de 38º C em cerca de 20 minutos (39).
Um automóvel de coloração escura estacionado em um dia ensolarado com temperatura ambiental de 22º C pode atingir temperatura interna de 40º após 10 minutos e exceder os 47º C após 1 hora (20).
O mesmo automóvel pode atingir temperatura interna de 60º C após 1 hora estacionado em um dia ensolarado com temperatura ambiental de 31º C (20).
Abrir algumas frestas da janela do automóvel se demonstrou não ter efeito nenhum no aumento geral da temperatura total (20).
Há um estudo científico que relatou que os pets que foram confinados no interior do automóvel tiveram 3 vezes mais chances de desenvolver intermação severa quando comparado com a intermação por esforço físico (23).
Pré-condicionamento dos pets:
O exercício físico é um elemento essencial para a aclimatização dos seres humanos e dos cães e é caracterizado pelo aumento do consumo de oxigênio, acidose lática e aumento na produção de radicais livres (7).
O exercício físico prévio pode, pelo menos em parte, prevenir a intermação (7).
A má aptidão física e a restrição ao exercício físico afetam negativamente a eficácia da termorregulação, além de diminuir a resistência ao exercício físico (23).
Importante orientar o responsável de que os pets não morrem somente em “automóveis quentes” e que os pets podem morrer devido ao exercício físico, principalmente quando tiver elevada temperatura ambiental (21).
Extremamente perigoso encorajar o responsável a iniciar o pré-condicionamento na primavera e no verão nos pets que não se exercitam (13).
Importante orientar os responsáveis a realizar exercícios físicos regulares, com início lento em climas quentes e úmidos, e durante os horários mais frios do dia como de manhã cedo ou começo da noite até que ocorra a adequada aclimatização do pet (19, 24).
Verificar o índice de calor antes de praticar exercícios físicos, principalmente nos meses mais quentes do ano:
O exercício físico intenso aumenta a taxa metabólica de 10 a 14 vezes a taxa metabólica basal (29).
Importante educar o responsável a praticar exercício físico com o pet, independentemente da raça e idade do pet, nos horários mais frios do dia e em áreas com sombras, além de nunca forçar o exercício físico quando a temperatura ambiente estiver elevada (12, 24, 33).
Há um estudo científico relatando que cães podem desenvolver intermação após 6 minutos de exercício físico em temperatura ambiental elevada e que os cães são mais susceptíveis ao desenvolvimento de intermação devido ao exercício físico do que outras espécies animais (20, 29).
Há relatos de pets, principalmente os pets obesos e/ou de raças braquicefálicas, que desenvolveram intermação após uma atividade física de baixa intensidade em temperatura ambiental relativamente baixa e por isso não se recomenda nem caminhar com o pet quando a temperatura ambiental estiver elevada (20-23).
Cautela durante a realização do exercício físico em pacientes obesos, pois esses pacientes apresentam dificuldade em dissipar calor corporal (12).
Observar sintomas de estresse térmico:
Importante educar o responsável quanto aos possíveis sintomas de estresse térmico como paciente que fica ofegante (às vezes parece que o pet está “sorrindo” por apresentar retração dos cantos da boca para aumentar a superfície e maximizar a evaporação), pet fica com a língua mais protruída e pendurada, que fica procurando locais com sombras e/ou que se reluta a realizar exercício físico (12, 17, 19-20).
O responsável que não é orientado pelo médico veterinário quanto aos sintomas de estresse térmico pode não procurar o atendimento médico veterinário até que o cão progrida para quadro de intermação grave (23).
Quanto maior a orientação do responsável quanto aos sintomas de intermação, mais rapidamente será a medida tomada para evitar o agravamento da intermação e melhor o prognóstico (23).
(Foto: fotografia demonstrando um Bulldog Francês com aspecto de "sorrindo" e com estenose de narina, que é uma das alterações da síndrome da obstrução aérea dos braquicefálicos. [Fonte: própria, 2024])
Monitorar temperatura corporal:
Importante educar o responsável a monitorar a temperatura corporal, pois alguns pets continuam realizando exercício físico mesmo após a elevação da temperatura corporal até entrarem em colapso (12).
Fórmula matemática para não se exercitar com o pet
Há uma fórmula matemática que consiste em “temperatura ambiental (ºC) x umidade (%) > 1000” que indica se será possível se exercitar com o pet ou não (13).
Caso o resultado da fórmula matemática for inferior a 1000, significa que será possível se exercitar com o pet sem grandes complicações, mas um estudo científico contraindica exercitar com o pet baseado somente no resultado dessa fórmula matemática e não indica para todos os pets, uma vez que existem variações entre os pets (13).
Identificação dos pacientes predispostos a desenvolver intermação
A identificação dos pacientes predispostos a desenvolver intermação
auxilia no manejo do paciente (7).
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Atualizado em: 09/05/2024